Muito antes de Popó e Bambam, tivemos Renivaldo x Belair: e eles pensam em revanche

Evento de boxe foi realizado há 18 anos em Macapá entre dois apresentadores de TV; luta foi decidida após penalidade
Compartilhamentos

Por SELES NAFES

O jornalista Renivaldo Costa era apresentador de jornal e sempre foi um amante dos livros e da poesia. Por isso, quando aceitou subir num ringue de boxe para trocar socos com outro grande comunicador da época (2006), Belair Júnior, o interesse público no evento foi gigantesco.

Nos últimos anos, o mundo do entretenimento esportivo tem experimentado um boom de eventos como o protagonizado no último fim de semana entre o campeão do BBB1 e influencer Bambam, e o tetracampeão mundial de boxe, Popó Freitas. Virou um grande negócio.

Em Macapá, em 2006, a ideia já era exatamente essa: unir dois comunicadores com grande visibilidade para trocar socos e atrair investidores para o MMA. A luta entre Renivaldo e Belair, a principal daquela noite na sede do Trem Desportivo Clube, ocorreu numa época em que a principal rede social era o Ortkut.

Antes da luta, os dois se provocaram muito em seus respectivos programas de televisão, Renivaldo no Macapá Urgente (Band) e Belair no Bronca Pesada (Rede TV). A temperatura subiu na noite do confronto, que demorou mais que os 36 segundos, mas foi encerrada precocemente.

Após a luta entre Bambam e Popó, muita gente relembrou esse episódio pitoresco em Macapá e até o próprio Belair chegou a pedir uma revanche. Ele foi desclassificado por ter aplicado um golpe abaixo da linha da cintura, naquele local que faz todo homem ajoelhar.

Conversamos com os dois e fizemos as mesmas perguntas a ambos.

O que você achou do evento do Popó e o Bambam? Você assistiu?

Renivaldo: Sim, acompanhei toda a hostilização entre os lutadores e dava pra ver claramente que havia muito de marketing em torno da luta. Mesmo maior, Bambam não teria nenhuma chance com Popó, que é um lutador experiente e que seguramente usaria o tamanho de seu opositor contra ele mesmo.

Belair: Esse evento, do ponto de vista midiático, foi um grande sucesso, inclusive muito lucrativo, até onde eu sei. Porém, partindo para o lado esportivo, foi uma chacota.

Belair sobe no ringue com casa cheia. Fotos: Acervo Renivaldo Costa

Como surgiu a ideia do evento com vocês em 2006?

Renivaldo: Eu e Belair fazíamos programas da linha comunitária e policial. Influenciados pelo grande sucesso de programas como Barra Pesada, do nosso confrade Luiz Eduardo Anaice, resolvemos fazer programas policiais locais, cada um na emissora que atuava. Surgia o Bronca Pesada e o Macapá Urgente. Isso há 20 anos. Depois de algum tempo, era preciso criar estratégias de promoção dos programas e pelo fato de algumas pessoas suporem que havia uma animosidade entre nós, por disputarmos audiência no mesmo horário, usamos isso a nosso favor pra promover a luta. É evidente que tudo não passou de uma brincadeira.

Belair: A ideia era promover e desmistificar o “vale tudo”, que na época era marginalizado e malvisto, inclusive pelos colegas jornalistas.

Qual programa você apresentava na época?

Renivaldo: Eu fazia o Macapá Urgente, pela TV Band, uma versão do Brasil Urgente, que liderava nos finais de tarde com o Datena. O programa começou com apenas 15 minutos, após o Macapá Notícias, noticiário local, e logo mereceu da emissora uma hora de exibição. Também por influência do Anaice, que tinha um anão em seu programa, convidei a Rosinha, que apresentava junto comigo, sempre com uma fantasia diferente.

Belair: Já apresentava o Bronca Pesada, que completa seus 20 anos. Na época, éramos rivais, pois tínhamos programas nos mesmos horários, competindo pela audiência.

Renivaldo e Belair: disputa por audiência foi parar no ringue

Renivaldo com Rosinha e Paulo de Tarso (convidado)

Belair no início do Bronca Pesada

Lembro que vocês se provocavam, cada um em seu programa…

Renivaldo: Nessa época as redes sociais ainda não tinham a força que tem hoje, mas já existia Facebook e Twitter e através desses canais, gravávamos vídeos, com provocações bem contundentes. Quem não nos conhecia supunha que existia realmente uma rivalidade.

Belair: (Não respondeu).

Como foi a sua preparação?

Renivaldo: Como a coisa foi tomando uma grande proporção e as pessoas esperavam mesmo uma luta, mesmo que curta, eu tomei algumas aulas de boxe com o Luiz Fábio, que além de repórter do programa, era pugilista e professor de Educação Física.

Belair: Minha preparação foi feita pelo Guigui, que vinha de excelentes lutas e grandes vitórias, auxiliando-me naquele momento.

Qual foi a repercussão naquela época em que as redes sociais ainda não eram tão fortes?

Renivaldo: Muita gente, que supunha que a briga era realmente valendo, e não era muito simpático à linha dos programas policiais, formulou reclamação junto ao Sindicato dos Jornalistas, que chegou a reunir pra tratar sobre o assunto. Lembro que o procedimento foi conduzido pela Hanne Capiberibe, Alcilene Cavalcante e Gilvana Santos, que nos deram uma reprimenda. O Sindjor entendeu que ao promover aquela luta, estávamos incitando a violência.

Belair: Os comerciais sobre a luta eram veiculados no meu programa, e devido à grade do Bronca Pesada, era esperada uma certa repercussão. Mesmo assim, fomos surpreendidos com a proporção que o evento tomou. Era como um final de Copa do Mundo. Se as redes sociais fossem como são hoje, teríamos ultrapassado a bolha e talvez estaríamos nas páginas de todo o Brasil.

Renivaldo foi declarado vencedor, mas foi desafiado 18 anos depois para uma revanche

Nesses tempos de cancelamento nas redes sociais, como você acha que seria a repercussão hoje?

Renivaldo: Por incrível que pareça, penso que a luta seria melhor recebida. Naquela época – 20 anos atrás – ninguém conseguia imaginar dois apresentadores lutando num ringue. O sucesso das lutas entre Popó e Whinderson Nunes e agora com Bambam ajudaram a abrir os olhos das pessoas acerca da modalidade.

Belair: Apesar da cultura do cancelamento, acredito que as consequências hoje seriam diferentes da época da luta, de forma positiva. A Federação dos Jornalistas convocou uma assembleia para nos expulsar do sindicato devido ao evento, mas hoje não acredito que fariam o mesmo. Nas redes sociais, no máximo, seríamos um “meme”.

Você faria tudo de novo?

Renivaldo: Sem dúvida. Nunca fui um desportista na essência, mas faria sim. Há alguns anos até propus pro Belair de fazermos uma revanche a fim de arrecadar donativos para alguma entidade sem fins lucrativos. Lembrando que na primeira luta, Belair foi desclassificado por ter praticado golpe baixo e fui declarado vencedor.

Belair: Com certeza, faria tudo novamente. Claro que me prepararia mais, treinaria mais e conheceria as regras para não ser desclassificado novamente. Falo isso em tom de brincadeira, partindo para o princípio esportivo, pois Renivaldo é uma pessoa pela qual tenho profunda admiração, tanto pelo excelente desempenho profissional quanto pessoal.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!