Por IAGO FONSECA
O cenário dentro da embarcação lembra um filme de terror. Após quase 12 anos, o imponente navio Comandante Solon, patrimônio do governo e que faz parte da história do Amapá, perece. Símbolo de um período, quando o Amapá era território federal, a embarcação acumula ferrugem, poeira, vegetação e já foi ponto de consumo de drogas. A imagem da deterioração remete à expressão “navio fantasma”.
Durante o Território Federal do Amapá (TFA) e início do estado, o Solon fazia o transporte de passageiros entre o município de Santana, distante 17 km de Macapá, e a capital paraense, Belém. Sua capacidade original era de 955 passageiros, mas foi reduzida para 555, após intervenções da empresa que operava o navio, de acordo com o governo do Amapá.
O Portal SN visitou a embarcação em 2018, quando denúncias apontavam que o local era utilizado como ponto de consumo de drogas. O navio continua debaixo da ponte sobre o Rio Matapi. O único “tripulante” a bordo é um vigilante de uma empresa que presta serviço ao Estado.
Com 64 metros de comprimento por 12 metros de largura, e quase quatro décadas, o Comandante Solon permanece onde foi deixado em 2012, após uma ação de reintegração de posse movida pelo Governo do Amapá para recuperá-lo de uma empresa de navegação que explorava o barco em uma rota comercial sem pagar o aluguel de uso por 9 anos, segundo o processo.
O cenário é de completo abandono. Piso de madeira consumido pela umidade e pelo tempo. A pintura branca foi substituída por manchas de mofo e poeira. As ferragens da cobertura estão consumidas por ferrugem.
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Navio comandante Solon foi muito usado no Território Federal do Amapá e início do estado
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A maioria dos aparelhos de ar foi levada…
O Comandante Solon está entre os bens e imóveis públicos que podem ser vendidos para evitar gastos com manutenção. A embarcação foi saqueada no período em que esteve atracada em Fazendinha, balneário na zona sul de Macapá. O Solon passou por levantamento de inventário pelo estado em 2016 para ser leiloado, porém, até hoje a venda do patrimônio não ocorreu.
Ele foi apreendido no segundo ano da gestão Camilo Capiberibe (PSB), em 2012, e nenhuma destinação foi dada a ele, a exemplo dos oito anos do governo Waldez Góes (PDT). Na gestão Clécio Luís (SD), que completou um ano, a Secretaria de Estado de Transportes (Setrap) continua sendo responsável pela manutenção e segurança do patrimônio.
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“Navio fantasma”
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Único “tripulante” é um vigilante que não permite a entrada na embarcação
Para a reportagem, o secretário Valdinei Amanajás declarou que iria reunir as informações atualizadas sobre o navio, mas até a publicação desta matéria, não houve retorno.
O Portal SN apurou que técnicos da Setrap passaram a visitar o navio, periodicamente, e conseguiram fazer o acionamento dos motores.
“Os motores estão funcionando muito bem”, garante um morador das proximidades que já presenciou o acionamento do barco.