Por ANITA FLEXA
Apesar de medirem menos de 5 milímetros de comprimento, os microplásticos são considerados uma das maiores ameaças ao meio ambiente e à saúde animal. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), seres humanos e animais constantemente ingerem esses produtos.
É com o objetivo de analisar a presença desses materiais nas praias brasileiras que o projeto MicroMar foi criado. Ele reúne 15 instituições espalhadas pelo país, e no Amapá, conta com o apoio da Universidade Estadual do Amapá (UEAP).
A iniciativa tem investimento de mais de R$ 1 milhão, via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto é coordenado pelo professor Guilherme Malafaia, do Instituto Federal Goiano. Pesquisadores de instituições de ensino ao redor do Brasil participam do estudo.
No Amapá, o projeto tem seu braço científico na universidade estadual, a Ueap, através do grupo liderado pela Profa. Me. Neuciane Dias Barbosa, docente do colegiado de Engenharia de Pesca. Ela e sua equipe estabeleceram 40 pontos de amostragem ao longo da costa do estado, entre os municípios de Calçoene e Amapá.
“Nós elaboramos a proposta juntamente com outros pesquisadores de outras instituições do país. Estamos atuando também na divulgação científica do projeto, e mais adiante com os resultados já, as análises já feitas, nós vamos analisar os resultados e elaborar produtos desse trabalho, com a questão de ter uma base atualizada de informações sobre a poluição microplástica em todo o litoral brasileiro, a fim de determinar quais são os tipos de plástico, a quantidade desse material que é encontrado em cada ponto que foi amostrado, e possivelmente estabelecer até medidas que possam vir a ajudar a combater esse problema, que também se torna até uma questão de saúde pública”, explica a professora.
Os microplásticos são poluentes que podem ser encontrados em cosméticos e em produtos de higiene pessoal. São formados a partir da fragmentação de resíduos plásticos maiores, como sacos plásticos e garrafas. Podem causar danos à saúde dos animais e de outros organismos.
Além disso, adultos consomem, em média, dois mil microplásticos por ano apenas por meio do sal. Por conta disso, governos e instituições científicas do mundo todo vem realizando esforços para caracterizar a presença e o risco que esses poluentes podem representar para os ambientes naturais, fauna, flora e para a própria saúde humana.
Durante visita da equipe do Instituto Federal de Goiás, em setembro do ano passado, amostras de 40 pontos entre os municípios de Calçoene e Amapá foram coletadas.
Para a acadêmica do curso de engenharia de pesca, Elizabete Miranda, aluna da professora Neuciane, essa iniciativa é essencial para manter a vida marinha, e contribui para novas pesquisas de proteção da fauna dos rios brasileiros.
“Durante as pesquisas da minha iniciação científica na Universidade, a gente analisou 359 estômagos de arraias que foram coletados em torno da orla de Macapá. Encontramos o resíduo, o fragmento de plástico e alumínio em um estômago. Mesmo com esse número pequeno, isso significa um grande perigo. Porque quando as raias ingerem, esses plásticos, esses alumínios, podem ocorrer obstruções intestinais e elas vão ter dificuldades de absorção de nutrientes, causando, assim, a desnutrição delas, o que pode afetar no sistema imunológico delas e reprodutivas”, afirmou a estudante.
Alcance
Até o momento, os pesquisadores realizaram a coleta de mais de 6.700 amostras de areia e água em 750 praias localizadas em 300 municípios e distritos nos estados do Amapá, Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isso representa um total de 5.578 km de orla já percorridos ao longo de julho de 2023 e fevereiro de 2024.