Por SELES NAFES
A Polícia Civil do Amapá concluiu as investigações, que correm em segredo de justiça, contra o jovem acusado de se passar por médico cirurgião em Macapá. O Portal SN teve acesso com exclusividade a detalhes do inquérito, que revelam o sofrimento de uma das vítimas, de 32 anos, e que originou a investigação contra Raylan Cruz Vales, de 23 anos. Ele se identificava como “Dr Raylan Vales” nas redes sociais.
A investigação começou em junho de 2023, depois do registro de um boletim de ocorrência por propaganda enganosa e lesão corporal na Delegacia de Crimes Contra o Consumidor (Decon). No BO, a vítima informou que passou por um procedimento cirúrgico estético na Clínica Harmonyc (fundada por Raylan), que envolvia a aplicação de ácido no nariz.
Segundo a vítima, um vaso sanguíneo teria sido afetado, provocando posterior necrose. À época da queixa, o procedimento havia sido realizado há 17 dias. O proprietário teria ajudado a paciente com pouco mais de R$ 1,7 mil para que ela procurasse um tratamento.
O Portal SN apurou que a clínica Harmonyc, localizada na Avenida Antônio Coelho de Carvalho, no Bairro do Central, foi fundada por Raylan Cruz Vales em agosto de 2022.
Já em depoimento na polícia, a vítima lembrou que o local foi indicado por uma amiga que tinha visto uma postagem da clínica informando preços com 50% de descontos em vários procedimentos. Ela se interessou e passou a pesquisar postagens do “Dr Raylan” no Instagram. O perfil, que foi derrubado a pedido da Polícia Civil, já tinha 13 mil seguidores.
Ao chegar para o procedimento pelo qual pagou R$ 450, a vítima foi informada que o “médico” estava em outro compromisso. Mas, por telefone, ele teria autorizado a assistente a realizar o procedimento de rinomodelação com aplicação de ácido hialurônico, o que causou bastante dor. A assistente tentou tranquilizá-la afirmando que o sintoma era normal.
Dores e diplomas
No dia seguinte, com dores e lesões, ela voltou à clínica e foi atendida pessoalmente por Raylan, que lhe aplicou hialuronidaze. O Portal SN apurou que se trata de uma enzina usada normalmente para anular os efeitos do ácido hialurônico.
Sem resultado e com o agravamento da queimadura, ela procurou dois médicos e passou por um tratamento numa câmara hiperbárica, para acelerar a cicatrização. Mesmo assim, a paciente ficou com uma cicatriz de quase 3 cm no nariz do lado esquerdo.
Indignada, ela passou a pesquisar sobre o então Dr Raylan Vales e não encontrou o CRM dele. Foi então que se lembrou que não tinha assinado nenhum contrato com a clínica, e que na parede do consultório havia vários certificados e diplomas pendurados, o que a induziu a confiar que se tratava de um profissional habilitado.
O Portal SN tentou falar com Raylan por telefone, mas a ligação caiu numa caixa postal com secretária eletrônica em espanhol. Ontem, a delegada Janeci Monteiro confirmou que o indiciou por falsidade documental, falsa identidade, exercício ilegal da medicina e indução de consumidor ao erro por meio publicitário. A estimativa é de que ele tenha faturado R$ 250 mil.
Ela chegou a pedir a prisão dele, mas a justiça negou.
O Portal SN não conseguiu apurar se Raylan chegou a ser ouvido pela Polícia. Segundo informações não oficiais, ele seria estudante de medicina de uma faculdade privada no Paraguai.