Por ANITA FLEXA
Ele faz parte da mesa da maioria das famílias do Norte do brasil e é um dos principais responsáveis pela economia extrativista regional. Apesar de ter origem na Região Norte, o açaí conquistou o paladar de todo o país e é versátil na culinária brasileira, além de movimentar milhões de reais. O grande desafio, especialmente para o consumidor e as batedeiras, é a oscilação do preço em determinadas épocas do ano.
Geová Alves é presidente da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB), uma entidade que representa cerca de 38 comunidades ribeirinhas, e dessas, 28 trabalham diretamente com a cadeia produtiva do açaí, a principal fonte de renda das localidades. Ele afirma, que ao longos dos anos, têm-se observado o crescimento do açaí pelo Brasil e o mundo, mas quem define o valor de mercado do produto é o atravessador.
“O valor do açaí é um preço que oscila muito. O preço do início da safra é um pouco alto e depois ele baixa muito, até meio se tornando inviável para muitos produtores, o que não compensa. Então essa oscilação do preço prejudica muito a cadeia produtiva local e a própria geração de renda, uma vez que dependendo da região que o produtor mora, fica inviável continuar coletando açaí para vender ao atravessador”, diz o presidente.
Pensando nisso, alunos e um professor do Instituto Federal do Amapá (Ifap) desenvolveram o aplicativo “Açaí Direct”. A ideia surgiu a partir de uma pesquisa de campo na principal área de venda do fruto in natura: a Rampa do Açaí, na orla de Macapá, capital do Amapá.
“A gente percebeu a necessidade de encontrar alguma solução para esse problema (preço), de acordo com o depoimento dos extrativistas, dos produtores que chegavam ali nas suas embarcações. E a gente percebeu aquela movimentação entre o comprador e os extrativistas que são os fornecedores”, explica o professor doutor Bruno Cavalcante, coordenador do projeto.
O açaí é vendido nas ilhas por um preço, mas os valores são superfaturados quando ele chega à rampa, prejudicando toda a cadeia que termina na mesa do consumidor. A plataforma tem a missão de ajudar a regular a precificação da venda do açaí, sem que produtores e extrativistas sejam prejudicados financeiramente. Com a ferramenta, o comprador (batedeira) poderá negociar diretamente com o extrativista/produtor.
“O Açaí Direct objetiva encurtar esse processo e antecipar essa compra diretamente com o produtor, para que o produtor se beneficie com o preço que ele estabelece, não com que o comprador ou o atravessador estabeleceu. Se o próprio produtor começar a estabelecer o seu preço de acordo com os seus custos, aí a gente consegue ter uma precificação justa”, acredita Cavalcante.
Emyla Moraes, é estudante do Ifap do curso de Tecnologia da Informação e designer da plataforma Açaí Direct. Ela avalia que o APP vai permitir uma renda estável e justa para as comunidades ribeirinhas que vivem do açaí.
“Pode ajudar a reduzir a pobreza e a desigualdade, além dele promover práticas sustentáveis de produção de comércio justo, e também contribui para a preservação do meio ambiente e para o bem-estar das comunidades locais a longo prazo”, conclui a estudante.
“Com esse aplicativo vemos uma possibilidade de nivelamento de preços. Então seria, sem dúvida alguma, uma das estratégias mais, digamos assim, eficientes nesse caso para o desenvolvimento local, um preço estável e um preço que fosse justo”, acrescenta o presidente da associação, Geová Alves.
A plataforma conta com tecnologias avançadas de e-commerce, integração de pagamento e logística, além de funcionalidades que garantem acessibilidade a todos os usuários, incluindo pessoas com deficiências visuais e auditivas.
O Açaí Direct ainda está em fase de testes. O grupo busca parcerias para fomentar o aplicativo no mercado local e da Amazônia.