Por IAGO FONSECA
Mesmo com os registros preocupantes de alagamentos este ano na capital e outros municípios, o Amapá dificilmente chegará ao nível da calamidade vivenciada pelo Rio Grande do Sul – devastado por enchentes e fortes chuvas.
Isso porque os relevos e a extensão dos rios que cortam o Amapá evitam grandes desastres climáticos, segundo o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa).
Apesar das chuvas intensas que atingem o Estado desde fevereiro – que levaram diversas casas próximas aos canais de Macapá para o fundo, a extensão do rio Amazonas tem capacidade para dar vazão às chuvas comuns desse período do ano, explica o meteorologista Jefferson Vilhena, do Núcleo de Hidrometeorologia e Energias Renováveis do Iepa.
“A configuração do nosso relevo é totalmente diferente do Rio Grande do Sul, lá eles possuem um grande acumulador de águas que são dois lagos que recebem toda a chuva vinda da serra. Nossa configuração geográfica é diferente, estamos à margem do rio Amazonas com 20 a 50 km de extensão. Ele consegue comportar uma quantidade gigantesca de água”, afirma o pesquisador.
Porém, para que os sistemas de drenagem da capital funcionem, é necessário que exista uma manutenção frequente dos canais e bacias de decantação, bem como a atualização dos sistemas de vazão dos Canais do Jandiá e do Beirol, reforça Jefferson.
“Chuvas de 400 a 1 mil milímetros mensais ou até mesmo 1 mil milímetros durante uns três, quatro dias, poderiam causar alagamentos momentâneos em Macapá, mas temos muitas áreas de escoamento. Entretanto, temos represas que dificultam essa travessia da água através da Rodovia JP e no Canal do Jandiá, próximo da Ponte Sérgio Arruda. O correto seria colocar pontes nesses locais para que a vazão aumente para o rio”, completa.
Recordes de chuvas
Desde que o Iepa iniciou os registros climáticos do estado, só houveram três momentos em que as chuvas foram recordes. Em março de 1996 com 794 milímetros, em abril de 1975 com 706 milímetros e em fevereiro de 2004 com 679 milímetros. No Rio Grande do Sul foram registrados 700 milímetros entre dois a três dias, segundo o Iepa.
“Como temos períodos de retornos dos eventos, provavelmente durante os próximos anos poderemos ter sim um evento de chuvas intensas no estado, estamos passando por anos de El Niño, que diminui o quantitativo de chuvas. Quando o La Niña vier pode ser muito intensa e aí sim pode intensificar nossas chuvas e os recordes de 20 anos”, enfatiza Jefferson.
Interior do Amapá
Em outros municípios do Amapá também não grandes riscos de enchentes como a do sul do país, de acordo com o Iepa. Oiapoque, Ferreira Gomes e Laranjal do Jari são influenciados pelos longos rios Oiapoque, Araguari e Jari, que causam alagamentos momentâneos nas cidades dias após as chuvas no oeste do estado, devido à grande extensão que a água percorre.
“Os nossos rios longos e o nosso relevo muito mais plano faz com que a água escoe mais lentamente para o oceano próximo e o rio Amazonas, não temos lagos e lagunas como em Rio Grande do Sul, na Lagoa dos Índios, por exemplo, a água rapidamente é captada para igarapés e seca. Nos outros municípios também é muito parecido, a chuva muito intensa cai lá nas cabeceiras das bacias e demora cerca de 10 a 25 dias para alcançar as cidades”, finaliza Jefferson.