Por IAGO FONSECA
A quadrinista e ilustradora digital Thai Rodrigues participou pela primeira vez do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ), que ocorreu de 22 a 26 de maio na capital mineira, junto a outros artistas do Amapá. Para a artista, o reconhecimento recebido no evento “apaga” o isolamento sentido pelos artistas no Amapá.
O FIQ é um evento bienal organizado pela prefeitura de Belo Horizonte, reunindo artistas do mundo inteiro. Considerado o principal evento do gênero na América Latina, é uma referência obrigatória para os amantes dos quadrinhos.
Esta foi a primeira vez que o Amapá teve participantes selecionados para o FIQ, incluindo Thai Rodrigues e o coletivo AP Quadrinhos. Eles mobilizaram campanhas nas redes sociais para custear as passagens aéreas e outras despesas.
Thai fez um balanço de sua primeira experiência no festival e contou ao Portal SelesNafes.Com que, desde o início de sua carreira em 2017, sempre quis participar do evento, mas só neste ano teve a oportunidade.
“Uma galera já conhece meu trabalho e foi lá pra consumir mesmo. Outras pessoas, os próprios artistas da região Norte, também sempre vão apoiar. A gente está nesses lugares para fazer parte mesmo. Esse sentimento de não estar isolado, de não me sentir fora das coisas, acaba passando quando eu participo de eventos nacionais. Minha intenção é fazer parte, mostrar meu trabalho, trocar ideias e ter crescimento profissional”, declarou a artista.
Para ela, o evento mostrou que os artistas do Amapá têm a mesma capacidade que os de outras regiões do Brasil, com trabalhos consistentes e prontos para serem inseridos na cena nacional.
No Festival Internacional de Quadrinhos, Thai lançou o fanzine “Marabaixo Pra Gente Dançar”, que retrata o patrimônio cultural do Amapá por meio da história de uma mãe e filha que se preparam para dançar com os batuques. “Conversando com outros artistas, percebi que o Amapá é um estado isolado não só do Brasil, mas também da própria região Norte. Resolvi fazer esse quadrinho falando sobre o nosso maior patrimônio cultural, mostrando como funciona. É um quadrinho dobrável, que você vai lendo, desdobrando, e no final ele forma um pôster”, explicou Thai.
No entanto, Thai lamenta não ter as mesmas oportunidades em eventos locais. Segundo ela, seus trabalhos não são aceitos nos editais de festivais do estado, o que ela relaciona a um “apagamento geral”, somado ao fato de ser mulher e não fazer parte do meio artístico local.
“As pessoas têm uma ideia de que eu sempre vou levar representatividade, e talvez eu vá. Mas, a partir do momento que o próprio Amapá não se posiciona para me dar essa oportunidade, esse apoio, isso acaba meio que caindo por terra. Eu não me sinto acolhida pelo meu estado, seja por outros artistas, seja pelo poder público. É uma caminhada muito solitária”.