A triste história de Arthur, o flanelinha de uma perna só

Amputado de 11 anos trabalha reparando carros para ajudar a avó, que lhe tirou do abandono.
Compartilhamentos

Por RODRIGO DIAS

Quem passa ao lado de um supermercado no cruzamento da Avenida Maria Quitéria com a Rua Santos Dumont, entre os Bairros Santa Rita e Buritizal, na zona sul de Macapá, se depara com uma cena que chama a atenção. Um menino, sem uma das pernas e com muleta, se arrasta pela calçada para reparar carros. Quando vê um cliente, ele se levanta com todo o gás para ganhar um trocadinho.

Arthur Gomes da Silva tem 11 anos. É uma criança que conversa com bastante desenvoltura e demonstra uma certa “maturidade” incomum para sua idade. Em um bate-papo com a reportagem do Portal SN, ele contou um pouco da sua história de vida, que mesmo ainda no começo da jornada já tem capítulos arrancar lágrimas e provocar “nós” na garganta.

O garoto nasceu com as duas pernas. Quando tinha três anos, pobre, foi buscar comida na feira com uma mulher que sempre lhe ajudava e a tragédia aconteceu. Nesse dia chovia bastante e ele pisou em um fio elétrico descascado e eletrizado. Arthur ficou entre a vida e a morte, mas resistiu. A sobrevivência, entretanto, custou-lhe a pena esquerda, amputada.

“Minha avó conta que o médico me desenganou. Mas fui forte e, quando ela foi me visitar, eu acordei e estou até hoje aqui. Meus pais? Minha mãe me abandonou e meu pai está preso. Quem cuida de mim é minha vó, a quem dedico minha vida”, contou Arthur.

Arthur mostra algumas das sequelas do choque elétrico que …

… lhe custaram uma das pernas. Fotos: Rodrigo Dias

Ele faz esse bico como flanelinha no contraturno da escola para ajudar em casa. Estuda na Escola Estadual Josefa Jucileide. Em um dia bom de trabalho, fatura de R$ 10 a R$ 20. Durante a produção da matéria, ele havia ganhado apenas R$ 1,50 – e já havia se passado a manhã toda.

Sobre as limitações de locomoção, ter que dar duro para arrumar algum trocado e ajudar na renda familiar, e ainda arrumar tempo para ser criança, o menino foi enfático:

“Moro eu, minha vó, meu primo e meu irmão. Eles ajudam. Ela já é velhinha, eu não posso ficar parado em casa, tenho que correr atrás para ajudar ela. Eu gosto do que faço. Vergonha é roubar. Eu chego aqui umas 9h, 10h e fico até 13h. Mas não deixo de empinar pipa, jogar bola e andar de bike”, acrescentou o menino.

Athur repara carros na esquina de um supermercado

Dia ruim: apenas R$ 1,50 na manhã toda

Mesmo empolgado e determinado, é notório que Arthur leva uma vida difícil e precisa de apoio. Sua bicicleta está velha, seu único sapato está furado e sua muleta está quebrada. Por isso, ele disse que quer aproveitar a visibilidade da entrevista para fazer um pedido:

“Sei que não fácil pra ninguém, ouço muito isso aqui quando estou trabalhando, mas se puderem me ajudar com alguma coisa eu agradeço. Qualquer ajuda pra mim e minha avó é bem-vinda. Se tiverem um sapato, número 30, que não vai fazer falta ou um alimento sobrando, já sabe: doem pro Arthur”, falou em tom de bom-humor.

Athur falou tanto na avó, que insistiu para a reportagem ir até sua casa. Lá, estava Dona Maria Marta da Silva, de 76 anos, a avó paterna, a maior heroína do garoto. Logo de cara, já deu para perceber com quem ele aprende a ser tão forte e esperançoso no futuro.

Arthur precisa uma muleta nova

O único calçado está furado

“A família da mãe dele não quis ele, não visitam, e eu decidi cuidar dele. Esse é um guerreiro. Ele gosta de trabalhar e, pelo menos, não está fazendo coisa errada. Ele não recebe bolsa. Eu ganho um salário da minha aposentadoria. Ele precisa de remédio e a gente se vira pra comprar as coisas pra casa e pra ele. Meu marido e minha filha morreram. Estou só com meu neto. Quando ele sai e ganha esse dinheirinho, compra pão, açúcar, café, leite, farinha, comida, né? Até hoje não recebeu nada por causa do acidente que fez ele perder a perna. Mas seguimos aqui com a ajuda de Deus e a esperança de dias melhores”, detalhou Maria.

A idosa falou que busca terminar de pagar uma prótese para o neto. Em vários anos de pagamento, já deu o valor de R$ 5 mil, mas ainda faltam R$ 1 mil. Ela tem fé que conseguirão.

Dona Maria tirou o neto do abandono

Mesmo com todo sofrimento diário, o menino não perde a esperança de dias melhores

Quem tiver interesse em colaborar doando alimentos, roupas, calçados ou qualquer coisa, basta ir até a casa da família, localizada na Avenida José Gomes Bezerra, nº 2064, Bairro Santa Rita. Eles não têm WhatsApp.

Quem preferir, pode fazer transferência bancária via PIX/CPF 019.488.042-71, em nome de Solange Da Costa. O PIX é de confiança, e todo o valor será repassado para a família. A reportagem ficará monitorando o processo de ajuda.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!