Por JONHWENE SILVA, de Santana
Na noite de quinta-feira, 25, a jornalista santanense, pedagoga e especialista em educação Elaine Araújo lançou o livro “Dicionário Caboquês: A Língua do Cabuçu nas Brenhas da Amazônia”. Com 54 páginas, a obra apresenta expressões típicas de regiões ribeirinhas do Pará e do Amapá, como “Amodo”, “Disconforme” e “Já é, já!”.
Usando uma linguagem simples, a autora dedicou 10 anos para descobrir o significado de palavras e expressões ouvidas somente nas regiões ribeirinhas, onde os costumes e hábitos das pessoas são simples. O objetivo é documentar essa forma linguística para evitar que caia no esquecimento e seja conhecida pelas futuras gerações.
“A coleta de todas essas expressões tem um sentido muito especial, porque é uma linguagem nossa, regional, e eu precisava fazer alguma coisa para que não fosse esquecida. Consegui, ao longo dos anos, reunir todas essas palavras e expressões que possuem um sentido único e nosso. É a nossa característica, e precisava ser eternizada”, afirmou Elaine Araújo.
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Autora autografou alguns exemplares no lançamento
O lançamento do livro contou com a presença de diversas autoridades e membros do setor cultural do município, que aprovaram a obra. O poeta Rocha Filho relatou que a linguagem ribeirinha expressada pela autora reflete a realidade de pessoas que muitas vezes não tiveram oportunidades de estudar e conhecer a norma culta.
“Eu vejo que são expressões muito peculiares e de gente muito simples. Ficou muito bom, porque às vezes, nem mesmo nós que moramos aqui conhecíamos certas expressões. Além disso, tem um fator relacionado à educação. Pessoas que não tiveram chance de estudar e que por isso utilizam esse linguajar”, comentou Rocha Filho.
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Elaine Araújo: “É a nossa característica, e precisava ser eternizada”
Veja abaixo algumas das expressões e palavras presentes no livro:
– Amodo: Expressão que reflete uma aparência, o que se parece com, ou modo de ver, entender alguma coisa.
– Disconforme: Algo ou situação fora de parâmetro, absurdo. Em demasia.
– Já é, já!: Expressão usada na instituição de reabilitação de menores infratores do Amapá. Refere-se a algo que já extrapolou, acabou a paciência.
– Xereca: Órgão genital feminino, vagina.
– Jambre: Fruto do jambeiro, jambo.
– Derradeiro: Último, fim de tudo.
– De bubuia: Ficar boiando no rio. Boiando no assunto.
– Bem-dizer: Substitui a palavra “tipo”. Expressão que indica incerteza, algo que se tem dúvida.
– Barca furada: Popularmente, não tem futuro, “entrou numa roubada”.
– Até o talo: Enfastiado, cheio; serve para objeto também.
– Cumbuca: Pote ou vasilha, de barro, plástico ou madeira.
– Cara preta: Termo pejorativo relacionado à mulher e se refere ao órgão genital feminino por causa dos pelos.
– Cuviteiro: Esconde, encoberta um relacionamento de traição; o colaborador do ato de infidelidade conjugal. Também pode ser relacionada a uma pessoa fofoqueira.