Por RODRIGO DIAS
Um levantamento do Sebrae aponta que a fabricação e comercialização do couro de peixe teve início na década de 1970. Tratando-se de uma iniciativa voltada ao aproveitamento do rejeito da indústria pesqueira, passou a chamar a atenção do mercado, principalmente aquele focado em produtos ecologicamente corretos.
No Amapá, essa iniciativa vem ganhando força recentemente. Por aqui, o mercado da moda reconhece o valor e a importância do uso do couro de peixe na fabricação de acessórios como bolsas, cintos, carteiras e sapatos.
Stefane Corrêa é chefe de produtos de uma startup que transforma o resíduo da pele de peixe no “Couro de Peixe da Amazônia”. O projeto começou há dois anos, mas apenas em 2024 está sendo implementado o primeiro curtume verde no Amapá.
“A gente quer trabalhar toda a cadeia do pescado, desde a indústria quando pegamos a pele, e também queremos valorizar as comunidades tradicionais que vão trabalhar em parceria com a gente”, disse Stefane.
Corrêa explica que o couro de peixe da Amazônia consiste no procedimento mais ecológico. A vantagem do couro de peixe é que ele pode ter várias texturas, cores e padrões, já que existem muitas espécies desse animal, e também pode ser tingido. No estado, são usados produtos naturais para esse procedimento. A pele do peixe deve ser curada e tratada.
“O curtimento de couro normal trabalha com cromo, um metal pesado que é cancerígeno e causa dano ao meio ambiente e à saúde humana. Então nosso curtimento é mais ecológico, desde as tintas até os óleos utilizados e a utilização consciente da água no nosso processo”, acrescentou Stefane.
Segundo a chefe de produtos da Yara Couro, no Amapá, diariamente 18 toneladas de matéria-prima são jogadas fora.
“É uma média que fizemos através das indústrias com as quais temos contato, porque não conseguimos englobar o todo, já que também há as feiras livres que jogam fora. E não é só a pele; a Yara Couro quer absorver todo o resíduo para outras áreas, como biofertilizantes e biogás, para retornar até para essa própria comunidade”.
A importância dada ao uso de matérias-primas alternativas, com o apelo do “politicamente correto”, torna a atividade econômica do curtume de couro de peixe inovadora e altamente promissora. O setor curtidor é de grande importância para a economia brasileira.
“Acredito que estamos fazendo uma revolução porque trabalhamos desde a ponta até o produto final. Queremos agregar valor à cadeia do pescado, trabalhando com as comunidades, gerando emprego e renda, e proporcionando qualidade de vida, trazendo desenvolvimento para o nosso estado a partir de produtos da Amazônia e levando a Amazônia para o mundo”, finalizou Stefane.