Por SELES NAFES
A Polícia Civil do Amapá investiga o pároco do Santuário de Nossa Senhora de Fátima e vigário geral de Macapá, Francivaldo Lima da Silva, de 52 anos, por crimes sexuais. Ele é acusado por jovens da igreja (alguns ex-coroinhas e ex-seminaristas) de assédio, importunação e até favorecimento à prostituição.
Alguns prestaram depoimentos na Delegacia de Crimes Contra a Criança e ao Adolescente (Dercca). A polícia também está recebendo das vítimas e seus familiares prints de conversas de celular e nudes que o padre enviava aos jovens. O Portal SN teve acesso à investigação, mas, em respeito às vítimas e suas famílias, não postará imagens aqui.
O padre Francivaldo Silva é natural de Ourém (PA), e também é “Chanceler da Cúria”, cargo que lhe torna o clérigo mais importante da Diocese de Macapá depois do bispo Dom Pedro Conti.
Francivaldo era conhecido por sempre estar próximo da juventude da igreja, e usava um terreno particular no Ariri, na zona rural de Macapá, para promover acampamentos com eles.
As vítimas relataram na investigação que a relação com o padre começava com elogios, evoluíam para toques sem permissão e abraços por trás, além de diálogos impróprios e propostas pelo WhatsApp.
As investigações começaram no fim de junho, quando a irmã de um ex-coroinha, de 17 anos, procurou a delegacia para contar o que estava ocorrendo com o irmão mais novo, que era coroinha na igreja, mas que estava apresentando problemas psicológicos e planos de tirar a própria vida.
Ele chegou, inclusive, a se despedir de amigos e postar um bilhete suicida nas redes sociais, bloqueando familiares (todos fiéis da igreja) para que eles não pudessem visualizar.
A namorada do rapaz ajudou a família a entender o que estava acontecendo, fornecendo fotos e prints das conversas que ela registrou no celular dele.
Como a maioria das imagens era temporária de 24h, boa parte dos conteúdos foi apagada. Mas, o que sobrou, permitiu à polícia comprovar o comportamento do padre para com o jovem, que recebeu fotos íntimas e foi questionado sobre se ainda era “cabaço”.
A irmã mais velha dele contou na polícia que o jovem chegou a pedir R$ 200 emprestados do padre e pagou a metade. Os outros R$ 100, o pároco sugeriu que fossem pagos com sexo. O jovem relatou à família que os assédios ocorreram entre 2022 e 2023, ano em que se afastou da igreja.
Emprego
Durante as investigações, a polícia descobriu outros jovens que também foram vítimas do padre, entre eles um ex-coordenador de grupos de juventude da igreja. Em 2022, o padre arrumou um emprego para um rapaz de 19 anos, numa livraria.
A partir disso, os assédios começaram, e incluíam convites para passeios privados no terreno do Ariri e frases do tipo “quando é que eu vou te comer?”, e quando iria tirar o “cabaço” do jovem.
O mesmo rapaz relatou que o padre tentou atrapalhar o namoro dele com uma jovem várias vezes para que pudessem ficar juntos. A vítima pediu que um amigo gravasse na tela do celular dele as conversas e as fotos de 24h.
“Anjinho”
Outro jovem, de 23 anos, tinha toda a família dedicada à igreja. Em 2019, ele entrou para o seminário para se tornar padre, e no mesmo ano conheceu o padre Francivaldo, então professor da disciplina de “Introdução à Bíblia”.
O padre o apelidou de “anjinho”, dava abraços carinhosos e chegou a emprestar seu cartão de crédito para que o jovem pudesse comprar um celular.
A vítima disse em depoimento que percebia que os abraços tinham segundas intenções, mas que não conseguia se opor por ver o padre como uma autoridade religiosa.
Com o passar dos dias, o jovem passou a receber mensagens do padre pelo WhatsApp com elogios por sua beleza e perguntas sobre se ainda era virgem, ou se já tinha algum relacionamento. As mensagens eram apagadas pelo padre logo em seguida, relatou ele.
No dia do aniversário do seminarista, o padre chegou com um bolo no Seminário Diocesano e convidou o jovem para entrar no carro para que tirasse uma foto do sacerdote segurando o bolo. Ao fazer a foto, o jovem percebeu uma expressão facial maliciosa no padre e desceu do veículo rapidamente.
Ainda no seminário, a vítima ouviu de outro colega de estudos relatos de que também tinha sido assediado pelo padre Francivaldo. Em 2022, o rapaz decidiu abandonar o seminário e iniciou uma terapia psicológica.
Poderia ser um bom padre
Em outro depoimento colhido pela polícia, um jovem que hoje tem 23 anos contou que foi criado na Escola Agrícola João Piamarta desde que tinha 13 anos. Em 2021, já no seminário, conheceu o padre Francivaldo, que sempre lhe fazia elogios.
Contudo, o jovem imaginava que esse comportamento ocorria porque o padre via nele alguma vocação para ser um bom sacerdote. No entanto, não demorou para que ele também percebesse outras intenções.
Abraços por trás quando estavam sozinhos e abordagem no quarto dele numa noite deixaram o jovem com medo. Dentro do veículo, o padre teria simulado que mudaria a marcha do carro, mas acabou passando a mão no pênis do rapaz, por cima da calça.
Em diversas ocasiões, o seminarista viu o padre com expressões faciais sexuais, tendo percebido que o sacerdote estava com o pênis ereto várias vezes quando recebia abraços de Francivaldo.
Outras testemunhas já foram ouvidas, e o caso foi encaminhado para apreciação do Ministério Público.
Não me matem
Procurado pelo Porta SN, o padre Francivaldo disse que “está quase morto com essa notícia”, que está em depressão e enfrentando sequelas do diabetes. Mas, em nenhum momento, negou as acusações.
“Já pensei até em me suicidar. Por favor, não me matem”, implorou.
O sacerdote pediu que o Portal SN entrasse em contato com o advogado criminalista Paulo José, para que um posicionamento fosse dado sobre as acusações. Mas, Paulo José informou o contato do advogado Fernando Segato como responsável pela defesa.
Segato confirmou que ficou sabendo que existem as acusações, mas que ainda não recebeu nenhuma notificação oficial sobre a investigação. Por isso, só poderá se pronunciar após o acesso ao inquérito. Ouça.