Democracia no Ciberespaço

No Brasil e no mundo, a democracia representativa passa por uma crise profunda.
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Por JOÃO CAPIBERIBE, ex-governador e ex-senador do AMAPÁ

Passando para compartilhar este texto que escrevi há 10 anos, portanto, bem antes do WhatsApp. Será que minha crença no papel democrático da internet se confirmou?

Democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo. A democracia tem princípios que protegem a liberdade humana e se baseia no governo da maioria, associado aos direitos individuais e das minorias.

As primeiras experiências de construção do poder pela via democrática remontam à Grécia Antiga, mais precisamente à cidade de Atenas, onde se praticava a chamada democracia direta. Nela, alguns milhares de cidadãos se reuniam e debatiam juntos em um lugar público, ao qual podiam chegar a pé, para discutir os problemas da cidade. Esse sistema limitava a participação política das pessoas, tendo como consequência a negação de direitos àqueles que ficavam de fora do processo. Atribui-se aos gregos a invenção da democracia.

A evolução da democracia, do “ágora grego” até a democracia representativa, tal como conhecemos hoje, foi decisivamente influenciada pelo surgimento da escrita, potencializada no século XV pela invenção da imprensa por Gutenberg. Isso tornou possível a disseminação de mensagens produzidas por pessoas que se encontravam a milhares de quilômetros de distância.

Um dos prédios da Ágora de Atenas

A Ágora atual cabe na palma mão

A escrita impressa provocou uma revolução na circulação da informação e do conhecimento, permitindo a formação da opinião pública, ingrediente decisivo para a democracia representativa, que emergiu das revoluções americana e francesa no século XVIII e se espalhou pelo mundo, expandindo direitos individuais e coletivos.

No entanto, hoje, no Brasil e no mundo, a democracia representativa passa por uma crise profunda. As pessoas desconfiam de seus representantes eleitos, considerando que eles representam mais seus próprios interesses, ou os de grupos econômicos que financiaram suas campanhas, do que os interesses dos coletivos que deveriam representar.

Da mesma forma que a imprensa escrita influenciou decisivamente o surgimento do regime democrático representativo no século XVIII, considero que hoje, com o advento da tecnologia digital e da sociedade em rede, que obrigou uma maior transparência da gestão pública, abre-se uma nova e ampla janela de oportunidade para ampliar a democracia, assegurando maior participação das pessoas nos destinos das cidades e das nações.

A internet, que constitui o ciberespaço, permite-nos criar fóruns democráticos envolvendo milhões de pessoas, o que poderá influenciar os novos rumos da democracia e até mesmo reeditar o “ágora grego” da antiguidade, só que desta vez no espaço virtual.

Seles Nafes
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