Por RODRIGO DIAS
As marcas da violência, o olhar de medo e o abalo emocional agora fazem parte da vida da enfermeira de 34 anos que foi espancada e estuprada no último final de semana, em Macapá.
O acusado é o médico Anselmo da Silva Ramos Filho, de 32 anos, que teve sua prisão em flagrante convertida em preventiva. Ele já acumula vários boletins de ocorrência envolvendo álcool, trânsito e agressões.
O Portal SelesNafes.com conversou com a vítima, ao lado da mãe e de seu advogado, Renato Nery, que afirmou mover processos tanto na esfera civil quanto criminal.
“Ele responderá pelos crimes de lesão corporal e estupro, já que os laudos comprovam as lesões sofridas pela vítima. Também entraremos com uma queixa-crime pelas injúrias proferidas e uma ação de indenização por danos morais pelos atos bárbaros que ele praticou”.
Nery também comentou a alegação de defesa do acusado, que afirmou sofrer apagões de memória devido ao uso de antidepressivos combinados com álcool.
“Esse argumento não se sustenta, pois o Código Penal é claro ao punir quem, de forma voluntária, se embriaga ou consome medicamentos com dolo. Há vídeos no processo que mostram o acusado ingerindo bebidas alcoólicas com amigos”, acrescentou.
A enfermeira concordou em relembrar detalhes do caso, desde o contato inicial com o médico e como o pesadelo que mais temia virou realidade na madrugada do último sábado (21). Acompanhe a entrevista:
Como conheceu o acusado?
“Em 2013, fomos apresentados na universidade por amigos em comum, mas não convivíamos. Apenas nos seguíamos no Instagram. No início deste ano, ele me mandou uma mensagem dizendo que agora era médico. Trocamos conversas ao longo dos meses, e ele sempre tentava marcar um encontro. Na sexta-feira [20], ele insistiu novamente e eu estava livre. Decidi ir.”
O que aconteceu no encontro?
“Nos encontramos no Boss Burguer. Ele já estava bebendo quando cheguei às 20h. A conversa fluiu bem, ele era atencioso, inteligente, e aos poucos eu fui ficando encantada. Depois fomos jantar no Downtown, onde nos beijamos e começamos a ficar. Ao fim da noite, ele me convidou para ir à casa dele e eu aceitei.”
Como começaram as agressões?
“No caminho, percebi que ele estava alterado por causa da bebida. No Uber, ele me deu um tapa leve e logo pediu desculpas. Ao chegarmos, fomos para o quarto e as coisas começaram a mudar. Ele se tornou agressivo, puxando meu cabelo, me jogando, me forçando. Eu tentei resistir, mas ele me batia sempre que eu levantava. Foi uma luta para escapar.”
Como conseguiu sair de lá?
“Lembro de dizer que meu irmão era policial, tentando assustá-lo. Quando ele se distraiu, consegui pegar minhas roupas e meu celular e corri. Lá fora, havia pessoas na rua, então ele não fez nada. Peguei um Uber e fui embora. Ele tentou ser gentil, mas eu só queria ir para casa.”
O que a motivou a denunciar?
“Quando cheguei em casa, minha mãe viu os machucados e fomos à delegacia. Ele continuava mandando mensagens, pedindo desculpas, dizendo que não lembrava. Com a orientação da polícia, marquei um reencontro e ele foi preso. Me machuquei nos ombros, seios, orelha, braços e na região íntima. A polícia foi fundamental no meu acolhimento.”
Você está fazendo tratamento psicológico?
“Vou precisar, não consigo parar de pensar nisso.”
O que diria para outras mulheres vítimas de violência?
“Que denunciem. Às vezes não percebemos no início, são pessoas que parecem ótimas, inteligentes, sedutoras. Mas a violência pode acontecer de repente. Não desejo isso para ninguém. Nós nos culpamos muito, mas vejo que fiz tudo o que podia. Não sei como estaria se não tivesse denunciado. Agora, quero justiça.”