Por RODRIGO DIAS
As queimadas anuais ameaçam as espécies animais que habitam diversas regiões do Amapá, um santuário da biodiversidade e patrimônio natural da humanidade. Diante desse problema, o trabalho dos bombeiros militares se intensifica. Além de combater as chamas, eles e outros profissionais se dedicam a minimizar o sofrimento de um grupo muitas vezes invisível: os animais.
No último fim de semana, um flagrante chamou a atenção. O ativista da causa animal, Victor Hugo, presenciou o momento em que uma bombeira arriscou a vida no fogo alto para salvar um animal silvestre durante uma grande queimada. A heroína foi a soldado Lyvia Noleto, que está na corporação há 9 anos.
Em entrevista, ela contou que esse tipo de ocorrência é frequente. O caso específico ocorreu no dia 19, após o almoço, na Rua Pinhal, uma das principais vias do bairro Brasil Novo, na zona norte de Macapá.
A devastação foi tão grande que, mesmo com várias equipes do Corpo de Bombeiros atuando por 3 horas, uma área equivalente a 10 campos de futebol foi destruída. O fogo quase atingiu as residências, mas os bombeiros conseguiram impedir. Lyvia relatou o momento em que encontrou o animal em perigo.
“Estávamos finalizando o combate ao fogo em parte da área quando entramos para avaliar. Foi quando vi o animal, popularmente conhecido como mucura, correndo mais para dentro da mata. Corri e o peguei para evitar que ele morresse queimado. Para nós, bombeiros, toda vida é importante. Fiz o atendimento no animal, aliviando as queimaduras com a água fornecida pelos populares, e depois voltamos ao combate, pois o fogo estava se aproximando das residências próximas à mata”, comentou.
O animal foi tratado, sobreviveu e foi devolvido à natureza. No entanto, em muitos casos, o desfecho é trágico.
“Encontramos muitos animais mortos e queimados, o que é triste. Salvamos os que conseguimos, evitando que fujam para o meio do fogo. No caso da mucura, nossa guarnição já estava exausta naquele momento, mas salvá-la me deu mais forças para continuar o trabalho”, acrescentou a bombeira, orientando a população.
Segundo o Corpo de Bombeiros, os focos de incêndio no estado ocorrem nos mesmos locais todos os anos, muitas vezes provocados por ações criminosas. A participação da população é crucial para combater essa prática.
“Não acumulem lixo, folhas secas e outros materiais em áreas de mata ou próximas às residências. Criem aceiros perto das casas para evitar que o fogo se aproxime. Fiscalizem seus vizinhos e denunciem queimadas criminosas aos órgãos responsáveis, como a DEMA. Registrem boletins de ocorrência ou liguem para o 190. A população precisa fazer a sua parte”, finalizou Lyvia.
Impactos ambientais
O portal SN.com também conversou com o médico veterinário Alfredo Silvestre, formado pelo Centro Universitário CESMAC, em Alagoas, e que atua no Amapá há 10 anos. Ele destacou os impactos das queimadas na vida animal, incentivando a reflexão da população. Acompanhe:
– As queimadas causam sérios danos à fauna, afetando os animais de várias formas. A perda de habitat é um dos primeiros impactos, pois o fogo destrói tocas, ninhos e fontes de alimento, deixando os animais sem abrigo e sem recursos para sobreviver.
– A intoxicação pela fumaça também é uma ameaça grave. O ar poluído afeta o sistema respiratório dos animais, provocando asfixia, desidratação e desorientação, prejudicando sua saúde e capacidade de fuga.
– As queimadas comprometem o equilíbrio dos ecossistemas, destruindo a vegetação que serve de alimento e abrigo para muitas espécies. Isso causa um desequilíbrio na cadeia alimentar, ameaçando predadores e presas, e colocando em risco a biodiversidade da região.
– Outro efeito devastador das queimadas é a extinção de espécies. Algumas plantas e animais, especialmente os com área de distribuição limitada, não sobrevivem à destruição de seus habitats. À medida que as áreas queimadas aumentam, a diversidade de espécies diminui, colocando em risco a sobrevivência de espécies raras.
– Finalmente, as queimadas forçam os animais a enfrentar uma adaptação forçada. Com a destruição de seus habitats, muitos são obrigados a migrar e se adaptar a novos ambientes, o que pode gerar estresse significativo e aumentar sua vulnerabilidade a predadores e mudanças climáticas.