Justiça tira sigilo de inquérito que apura infiltração de facção na política de Macapá

Candidato a vereador, Caçula segue sendo procurado pela Polícia Federal.
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Por RODRIGO DIAS

A Justiça Eleitoral da 2ª Zona de Macapá (AP) atendeu ao pedido da Polícia Federal e retirou o sigilo do inquérito que investiga a infiltração de uma facção criminosa na política da capital amapaense.

Neste domingo (6), o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem revelando como criminosos atuam para influenciar as eleições no Brasil. Macapá foi mencionada no caso envolvendo o candidato a vereador pelo PSD, Luanderson de Oliveira Alves, conhecido como Caçula, que está foragido e é procurado pela PF por integrar a organização criminosa Família Terror do Amapá (FTA).

Seu amigo, Jesaias Silva e Silva, o Jeisa, foi preso e exonerado do cargo de subsecretário de Zeladoria Urbana de Macapá durante a campanha. Ele havia sido nomeado pelo prefeito Dr. Furlan (MDB), que foi reeleito pela população de Macapá ontem.

Jeisa e Caçula foram acusados pela Polícia Federal por envolvimento com a facção, na operação Herodes, que investiga o financiamento ilícito de campanhas eleitorais no município.

A reportagem do Fantástico divulgou áudios que mostram como funcionava o esquema envolvendo Caçula e outros criminosos. O portal SN.com teve acesso ao inquérito, de 447 páginas, que detalha a investigação. A apuração revelou que a facção planejava conquistar uma cadeira na Câmara de Vereadores de Macapá para expandir sua influência dentro das instituições públicas.

A investigação começou com a análise de dados do celular apreendido de Jefferson Bruno da Luz Dias, o Bebezão, que cumpre pena no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) por tráfico de drogas. Ele é apontado como o responsável financeiro da facção.

O documento mostra o envolvimento de vários homens e mulheres no esquema. As conversas registradas revelam cobranças, pagamentos, prestação de contas, venda de drogas e ordens para coagir eleitores nas comunidades, principalmente no Conjunto Macapaba, com o objetivo de garantir votos para Caçula. Para ocultar o patrimônio ilícito e dificultar as investigações, os criminosos utilizavam contas bancárias de terceiros.

Como funcionava o esquema envolvendo o candidato a vereador Caçula, segundo a PF

As investigações também indicam que Jefferson Bruno e Bruna Pastana controlavam o dinheiro da facção sob o comando do marido dela, Rafael Pinheiro Alves, o Bocudo, uma das principais lideranças da FTA. Caçula foi identificado como o gestor patrimonial de Bocudo, e ficou comprovada sua influência dentro da organização, sendo próximo das lideranças.

A PF revelou, ainda, que Caçula deu suporte logístico à fuga de Rosemiro de Carvalho Freitas, outra liderança da FTA, durante uma saída temporária, em janeiro deste ano.

A organização criminosa solicitou que Caçula obtivesse um laudo médico para evitar o retorno de Freitas ao Iapen, supostamente com o apoio da Vara de Execuções Penais. Para isso, ele teria contado com a ajuda de Jeisa, que, além de subsecretário de Zeladoria Urbana, teria influência política para atender às demandas da facção.

Além disso, foi apurado que Caçula e Jeisa ameaçavam moradores do Conjunto Macapaba, afirmando que, caso não votassem em Caçula, perderiam seus apartamentos. Eles também intimidavam a comunidade ao dizer que nenhum outro candidato estava autorizado a pedir votos na região, e que quem desrespeitasse as “regras” seria “disciplinado” pela facção.

O nome do prefeito de Macapá é mencionado no documento, mas de forma superficial, sem que tenha sido comprovado qualquer envolvimento dele.

A Polícia Federal segue à procura de Caçula, que, apesar das acusações, ainda recebeu 354 votos nas eleições de domingo.

Seles Nafes
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