Por RODRIGO DIAS
Jairo Pereira Santana Júnior, de 33 anos, é um amapaense autodidata com uma história de superação que inspira. Ele se orgulha de dizer que é um advogado com transtorno do espectro autista (TEA), que venceu o medo e o bullying para lutar pelas causas de pessoas com comorbidades e famílias atípicas.
Desde a infância, Jairo demonstrou habilidades incomuns. Começou a ler e escrever entre os 2 e 3 anos de idade, aprendendo sozinho por meio de outdoors, placas, jornais, revistas, televisão e encartes de discos. Esse talento precoce o levou a ser considerado uma pessoa com superdotação e altas habilidades, em uma época em que o autismo não era amplamente discutido.
Jairo relembra que sempre foi percebido como “diferente”, até mesmo dentro da própria família. Teve dificuldades de interação com outras crianças e poucos amigos, mas conversava bastante com professores e diretores.
“Minha adolescência foi marcada por isolamento, bullying e poucas amizades no ensino médio, o que me levou a trocar o colégio particular pela escola pública, onde fui bem aceito. Lá, consegui reconstruir relações sociais. Na faculdade de Direito, também fui aceito, embora mantivesse poucas amizades”, relata.
A escolha pela advocacia foi motivada pelo desejo de combater injustiças no Brasil. No entanto, o caminho até a aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi desafiador, marcado por crises de ansiedade. Esse período o levou a buscar psicoterapia, onde surgiu a possibilidade de um diagnóstico de TEA. Após ser aprovado no exame, Jairo iniciou investigações que culminaram na confirmação do diagnóstico em novembro de 2022.
O laudo permitiu que ele entendesse mais sobre si mesmo e desenvolvesse habilidades que não foram trabalhadas na infância. Atualmente, Jairo faz terapias nas áreas de psicologia, fonoaudiologia, psicomotricidade (solo e aquática) e nutrição. Apesar das comorbidades, ele leva uma vida como qualquer pessoa, adaptando-se às interações sociais.
Jairo está em um relacionamento há oito anos, é pós-graduado em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, e atua em causas cíveis. Desde o diagnóstico, especializou-se no Direito das Pessoas com Deficiência e Autistas, áreas em que também advoga.
Recentemente, Jairo recebeu um convite para integrar a nova gestão da OAB Amapá como Conselheiro Seccional, por iniciativa do presidente da instituição, Dr. Israel da Graça, da vice-presidente, Dra. Christina Rocha, e da secretária-geral, Dra. Diandra Moreira. É a primeira vez que um advogado autista assume essa função na instituição, com a missão de promover inclusão e diversidade na advocacia e na sociedade.
“Represento não apenas pessoas com comorbidades como eu, mas também famílias atípicas da sociedade amapaense. Assumo essa missão com orgulho, para fazer a diferença na vida das pessoas, algo que já fazia como cidadão e advogado. Tenho certeza de que será uma experiência enriquecedora socialmente”, afirma.
Jairo encerrou deixando uma mensagem para pessoas com autismo e famílias atípicas:
“Um diagnóstico não define nada! Apesar das comorbidades e dificuldades, o autista pode ser o que quiser. Basta ter oportunidades e acesso a atendimentos terapêuticos para desenvolver suas habilidades. O autista pode contribuir muito para uma sociedade melhor. Valorizem o autista e vocês verão o quanto ele é capaz”, concluiu.