Levados por vascaíno, jovens flamenguistas do AP superam perrengues para ver a final da Supercopa

Os amapaenses Ícaro, José e Ryan em uma exposição da camisas históricas de Flamengo e Botafogo em um shopping em Belém.
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Por ELDER DE ABREU, de Belém

Todo torcedor apaixonado sabe que ver o time do coração ao vivo no estádio não é só futebol. Dependendo das circunstâncias, um simples rolê pode se tornar uma verdadeira saga. E foi exatamente isso que os jovens amigos, torcedores fanáticos, José Duarte, de 15 anos, e Ícaro Magave, de 16, viveram ao sair de Macapá (AP) rumo a Belém (PA) para assistir à final da Supercopa do Brasil no Mangueirão, no próximo domingo (2).

Só que para realizar esse sonho, a missão da dupla rubro-negra não foi nada fácil. Eles tiveram que enfrentar uma série de desafios: além da disputa por ingressos quase esgotados, os viajantes tiveram que improvisar, como comprar entradas do espaço de outra torcida e desembolsar uma grana extra para garantir um teto antes e depois do jogo.

Mas, além de todo esse sufoco, o duro mesmo foi ter que aguentar a secação do ‘guia’ deles na capital paraense, era nada menos que um ‘vascaíno’, que como todo cruzmaltino que se preze, prometeu torcer contra o Mengão. Foi um teste de paciência, superado com muito bom-humor.

Jovens admiram exposição de camisas dos finalistas da Supercopa. Fotos: Elder de Abreu

Após estarem mais calmos, trataram de experimentar a famosa comida do Ver-o-Peso

Desde o anúncio de que Flamengo e Botafogo fariam a decisão da Supercopa em Belém, José e Ícaro só tinham um objetivo: estar lá, de qualquer maneira. O problema é que convencer os pais a meter a mão no bolso – já que os estudantes não têm renda própria – e garantir os ingressos não foi nada fácil.

“Meu pai já estava comprando ingresso para o show do Oasis em São Paulo e por isso disse que seria difícil aguentar mais uma viagem. Mas eu dei sorte porque ele não conseguiu comprar os ingressos do show [risos] e aí concordou em vim para Belém”, contou Ícaro.

Já José entrou na campanha do “mãe, por favor” até conseguir um sim. Quando conseguiu a resposta positiva e entrou na platorma, os ingressos do lado flamenguista haviam se esgotado. Com muita coragem, ele decidiu comprar entradas do lado do Botafogo.

“Eu tinha certeza que o lado da torcida deles ia sobrar ingresso, porque eles são em menoir número e vim do Rio de Janeiro pra Belém é muito caro. Saiu tudo como eu pensei e dias depois, a plataforma informou que área onde eu comprei ia ser remanejada para flamenguistas”, explicou.

Só que apenas o ingresso não bastava. O garoto é menor de idade e não poderia ir sozinho a Belém. Foi aí que entrou em cena o secador. Seu tio, o funcionário público Jorge Duarte, foi o único que topou levar José e um primo seu, o pequeno flamenguista Ryan Duarte.

Ícaro Magave e …

… os primos José e Ryan Duarte tietaram o apresentador Escobar. Foto: Jorge Duarte

Ícaro viajou acompanhado do pai. Quando chegaram a Belém, os perrengues começaram. O hotel que alugaram não era nada do que estava no anúncio na internet. Eles dois tiveram, então, que sair procurando um lugar para ficar. Levaram o resto da manhã e uma tarde inteira até conseguir, pois a cidade foi invadida por torcedores, principalmente do Flamengo, que esgotaram as reservas. No fim, tiveram que dividir a estadia em dois hotéis diferentes, o que só aumentou os gastos.

“Pagamos a viagem inteira como turistas ricos. Mas tamo aqui, e o Flamengo vai ganhar”, animou-se Ícaro.

O vascaíno secador

Se já não bastasse toda a aventura, o único responsável que topou acompanhar José na viagem foi o tio Jorge Duarte, um vascaíno assumido e, agora, secador oficial a favor do Botafogo.

“Infelizmente acontece essas coisas com a gente, né?”, brincou Jorge.

Vascaíno convicto, Jorge logo avisou: “vou secar e torcer pro Botafogo”

Apesar da missão de “babá dos flamenguistas”, Jorge garante que domingo vai torcer contra: “Eles não tinham como vir sozinhos, então eu trouxe. Mas eu vim pra secar. Agora sou Botafogo”, brincou sobre os protestos do trio rubro-negro.

Amizade ‘alvi-rubro-negra’

Já estabelecidos e mais tranquilos, os turistas do Amapá aproveitaram o tempo livre até o dia do jogo para passear pela capital do Pará. E foi no Ver-o-Peso, tradicional ponto turístico de Belém, que eles encontraram e se encantaram com o apresentador Escobar, do programa Globo Esporte, que estava na cidade para produzir conteúdo para a televisão. Sempre muito simpático, o jornalista bateu fotos e conversou com os garotos.

Os moleques ainda mostraram que são mesmo bons nortistas quando, ao experimentar o famoso peixe frito com açaí do Ver-o-Peso, logo fizeram amizade com mais um rival, que comia na mesa ao lado, o botafoguense o Robério da Silva Júnior, que também enfrentou perrengues para ver a grande final. Ele saiu de Aracaju (SE) e encarou 10 horas de viagem para chegar nesta sexta (31) a Belém.

Alvi-negro Robério, de Sergipe, com os novos amigos rivais ribro-negros, José, Ícaro e Ryan

“Ainda não dormi, saí de Aracaju 6 horas da tarde. A paixão pelo Botafogo é que dá essa energia pra gente continuar de pé. Tudo começou quando eu ainda era criança, tinha 8 anos de idade. Através de um tio meu que é botafoguense, toda a minha família e os irmãos dele são flamenguistas, só ele era botafoguense. E eu me encantei pelo título de 89, que Maurício fez o gol pra encerrar o jejum de 27 anos. E daí pra frente, como nós em botafoguenses dizemos: eu não escolhi o Botafogo, o Botafogo me escolheu. E o jogo de domingo acho que vai ser um jogo apertado, mas eu acho que o Botafogo vence por 2 a 1 e se sagrar a campeão”, disse Robério, que assim como o Tio Jorge também desejou “péssima” sorte aos novos amigos do futebol.

Expectativa

José e Ícaro não veem a hora de entrar no estádio para ver o time do coração de perto. Para José, essa será a primeira vez assistindo ao Flamengo no estádio, enquanto Ícaro já teve esse privilégio no ano passado, quando viu o Mengão bater o Sampaio Corrêa, também em Belém, pelo Campeonato Carioca 2024.

Agora, a torcida rubro-negra amapaense quer apenas um final feliz no domingo: o terceiro título da Supercopa para o Flamengo.

Mas o Tio Jorge já deixou o recado: “A gente faz isso por amor ao futebol. Não podia deixar de ajudar a realizar o sonho desses garotos, tenho muito carinho por eles. Vou estar lá no meio deles, secando… Quem sabe domingo eles aprendem a torcer para um time de verdade?”.

No final, um torcedor do maior rival é quem teve que salvar o sonho de jovens flamenguistas. Coisas do futebol.

Seles Nafes
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