Preparativos para a COP 30: infraestrutura, desafios e oportunidades

O evento, conhecido como a “COP da Floresta”, colocará a Amazônia e o Brasil no foco internacional.
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Por PEDRO SILVA, de Belém

Belém, capital do Pará, está se preparando para ser o centro das atenções globais em novembro de 2025, ao sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). O evento, conhecido como a “COP da Floresta”, colocará a Amazônia e o Brasil no foco internacional, atraindo representantes de mais de 190 países para discutir soluções climáticas e revisar o Acordo de Paris, assinado há uma década.

Com uma população de aproximadamente 1,3 milhão de habitantes e um PIB per capita de R$ 20.562 bilhões, Belém é um polo estratégico na economia da Amazônia, além de ser reconhecida por sua rica cultura e história. Desde o anúncio da escolha como sede, em Dubai durante a COP 28, os governos local e federal têm se empenhado em transformar a infraestrutura da cidade para atender às demandas do evento.

Infraestrutura

Para garantir que Belém esteja preparada para receber delegações internacionais e visitantes, que somados ultrapassam 50 mil pessoas, 30 obras estruturantes estão em andamento. O investimento total é de R$ 5 bilhões, com apoio de recursos do BNDES e de Itaipu. Estas são algumas das principais iniciativas:

Cidade está em obras para o evento

Urbanismo

  • Parque da Cidade: Local onde a conferência será realizada, o parque ocupa uma área de 500 mil m², oriunda de um antigo aeroporto, e já está com cerca de 70% das obras concluídas. Após o evento, será entregue à população, oferecendo atrativos como o Museu da Aviação, centro de economia criativa, boulevard gastronômico, ecotrilhas e instalações esportivas. O complexo fica ao lado do Hangar Centro de Convenções, que se conecta com o Parque da Cidade e fará parte da Blue Zone da COP 30. O local já recebeu reuniões do G20 em 2024 e está sendo reformado para a conferência da ONU em Belém.
  • Porto Futuro II: Complexo de lazer e gastronomia em galpões cedidos pela Companhia Docas do Pará (CDP). O projeto inclui o Museu das Amazônias e o Parque de Bioeconomia, e está com mais de 60% das obras concluídas.

Mobilidade

  • BRT Metropolitano: A maior obra de mobilidade da região, que reestrutura a BR-316 com viadutos e ônibus sustentáveis, incluindo modelos elétricos.
  • Parque Linear da Doca: Reorganização do tráfego e melhoria da fluidez na Avenida Visconde de Souza Franco, uma das principais vias da cidade.
  • Base Aérea de Belém: Infraestrutura sendo adaptada com investimento federal de R$ 25,8 milhões.
  • Rua da Marinha: A via, localizada no Polígono da COP, passa por obras de ampliação e terá seis faixas de rolamento, beneficiando moradores de seis bairros, melhorando o tráfego e a mobilidade urbana.

Saneamento

  • Complexo do Ver-o-Peso: Pela primeira vez em quase 400 anos, o maior mercado livre da América Latina recebe uma intervenção sanitária significativa.
  • Canais: Revitalização de 13 canais, como Tucunduba, Una e Tamandaré, além da reforma do Canal da Timbó, entregue em janeiro de 2025. Até a COP 30, serão implantados 59,5 km de redes de esgotamento sanitário e mais de 10 mil ramais domiciliares.

Turismo e hospedagem

Com a chegada de milhares de visitantes, Belém se prepara para uma demanda excepcional por hospedagem. A rede hoteleira recebe novos investimentos, como os hotéis de luxo Tivoli (que faz parte do Grupo Hoteleiro Minor Hotels e atualmente opera 13 propriedades em Portugal, Brasil e Qatar), que ficará localizado no antigo prédio da Receita Federal, e Vila Galé (que conta com 46 hotéis em Portugal, Brasil, Cuba e Espanha), localizado na área portuária de Belém, de frente para a Baía do Guajará. Enquanto isso, pousadas e hostels existentes passam por modernização com incentivos fiscais.

Setor hoteleiro da cidade está aquecido

Outras soluções incluem:

  • Navios-Hotel: Navios de cruzeiros serão ancorados no porto de Outeiro, oferecendo leitos adicionais.
  • Hospedagem Temporária: Parcerias com plataformas como Airbnb aumentaram em 54% os cadastros de imóveis em 2024.
  • Infraestrutura Educacional: 17 escolas adaptadas para funcionar como hostels.

Sustentabilidade

A COP 30 também traz a oportunidade de promover a identidade amazônica no cenário global. O mascote do evento, o curupira, personagem do folclore brasileiro que protege as florestas, será utilizado para divulgar a conferência e conscientizar sobre a preservação ambiental.

Presidência

O embaixador André Aranha Corrêa do Lago, atual secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, foi anunciado nesta terça-feira (21) como o presidente da COP 30. A escolha de Corrêa do Lago foi confirmada após uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um grupo de ministros e autoridades.

Corrêa do Lago destacou a responsabilidade e o desafio de liderar um evento que promete ser um marco nas negociações climáticas globais. “É uma honra imensa e acredito que o Brasil pode ter um papel incrível nessa COP. Agradeço também ao restante do governo, porque a COP a gente vai ter que construir todos juntos. Além do governo, com a sociedade civil, o empresariado, todos os atores que são essenciais na formação do que o Brasil quer desta COP. Vamos juntos conseguir fazer uma COP que será lembrada com entusiasmo”, declarou o embaixador.

Ao lado de Corrêa do Lago, a atual secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, desempenhará o papel de diretora-executiva da COP 30.

Desafios

A recente decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris pela segunda vez impõe um desafio significativo à COP 30, reforçando a necessidade de engajamento global no combate às mudanças climáticas. Para o Brasil, o desafio é ainda maior: garantir a presença de líderes mundiais no evento, especialmente em um momento de tensões diplomáticas.

Durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB-PA), afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está convidado para participar da COP 30. “Os Estados Unidos, como a principal economia do planeta e um dos maiores emissores de gases de efeito estufa, junto com a China, não podem de forma alguma ficar fora desse debate”, declarou o governador.

Evento deixará legado para a cidade

Embora a realização da COP 30 represente uma oportunidade histórica para Belém, destacando seu protagonismo global, o evento também expõe desafios internos significativos. Entre eles, está a necessidade de direcionar investimentos para as áreas mais vulneráveis da cidade, ampliando a inclusão social, e de implementar melhorias urgentes na segurança pública, um tema recorrente de preocupação local.

Por outro lado, as intervenções estruturais em áreas centrais e as políticas de sustentabilidade adotadas na preparação para o evento prometem deixar um legado positivo para a Amazônia.

Essas iniciativas podem posicionar Belém como um modelo de adaptação urbana e compromisso ambiental, fortalecendo sua relevância no cenário global de enfrentamento às mudanças climáticas.

Seles Nafes
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