Da REDAÇÃO
Em entrevista à Revista VEJA, o governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), criticou a postura do Ibama em atrasar a emissão da licença ambiental necessária para o início do projeto de exploração de petróleo na margem equatorial, em parceria com a Petrobras.
A extração, prevista para ocorrer na região do Oiapoque – a cerca de 160 km da costa do Amapá e 500 km da foz do Rio Amazonas – pode transformar a matriz econômica do estado, historicamente marcado pela forte dependência de auxílios federais e indicadores sociais preocupantes.
“Não podemos mais aceitar má vontade do Ibama”, afirmou, enfatizando que o estado já cumpriu suas obrigações ambientais e que o empreendimento representa uma oportunidade econômica sem precedentes.
Segundo o governador, o projeto permitirá investir os ganhos do petróleo no desenvolvimento regional, impulsionando investimentos em pesquisa, infraestrutura e na capacitação de profissionais, além de oferecer suporte às comunidades indígenas e ribeirinhas.

Na Guiana, região é vista como nova potencial mundial
Clécio Luís destacou ainda que o Amapá é referência nacional em energia limpa e preservação ambiental, com aproximadamente 95% de sua floresta intacta e a demarcação de terras indígenas concluída sem conflitos.
Mesmo diante desse cenário positivo, o governador reconhece os desafios impostos pela exploração de um recurso tão estratégico, que, embora traga riscos ambientais – como impactos sobre a fauna e as comunidades locais –, também tem o potencial de reverter a economia do estado. Acompanhe a entrevista do governador à revista:
Qual é o potencial de desenvolvimento e riscos à região com a chegada da Petrobras à margem equatorial?
É preciso entender um pouco da história do Amapá. Quando o território foi criado em 1943 para a exploração de manganês toda a estrutura era completamente bancada pelo governo federal, e essa dependência da União continua até hoje. Temos o estado mais preservado do Brasil, com cerca de 95% da floresta intacta, demarcamos todas as nossas terras indígenas sem conflitos, e ao mesmo tempo estamos com péssimos indicadores sociais. Não há nada mais insustentável do que isso. Petróleo abre uma nova matriz econômica, e nós fizemos o dever de casa da proteção e exigimos o direito a explorar nossos recursos.
Como o Amapá está se preparando para receber projeto?
Já estamos realizando estudos sobre as profissões que precisaremos capacitar, os segmentos econômicos que surgirão, os fornecedores de bens, insumos e serviços de que a Petrobras precisará e um plano de governança. Estudando as questões das cidades que cresceram com o pré-sal, precisamos planejar: onde investiremos os royalties do petróleo nos próximos três, cinco, dez anos? Quanto vai para pesquisa, infraestrutura, apoio às comunidades indígenas e ribeirinhas do Oiapoque? Precisamos dar esta resposta sociedade. Não queremos que a região entre em decadência quando a produção de petróleo começar a recuar.

Clécio: “fizemos o dever de casa da proteção e exigimos o direito a explorar nossos recursos”
Como está ocorrendo a articulação política do estado com o governo federal, prefeitos e a população?
O projeto é muito bem recebido por todos, inclusive pelas comunidades locais. Talvez seja o tema de maior consenso no Amapá, a ideia de explorar sabendo que há riscos, sem abrir mão dos indicadores ambientais. Essa licença já deveria ter sido expedida há muito tempo – a última exigência para a Petrobras era a unidade de proteção e despetrolização da fauna, que já está avançando. Não podemos mais aceitar má vontade do Ibama, esperamos que a licença seja concedida em março.
Mesmo com este consenso político, existem resistências por parte da sociedade civil e ONGs, há diálogo com os opositores ao projeto?
Nós tratamos toda resistência com muito respeito e não houve conflitos. Recebemos críticas e sabemos que é preciso ouvir os pontos importantes ponderar que pode ser aperfeiçoado. O que se vê, porém, é realmente a construção de um forte consenso a favor da exploração do petróleo. Eu defendo a descarbonização da economia, entendo que o mundo inteiro precisa fazer transição energética, e o Amapá está extremamente avançado nisso. Toda a nossa energia vem de fontes limpas e somos o único estado carbono negativo do Brasil, que capta mais carbono do que emite. Enquanto o mundo fala em transição, já estamos discutindo a diversificação da energia.