Usuários de drogas acampam no CAPS, que também precisa de ajuda

Centro de Atendimento Psicossocial de Macapá enfrenta condições precárias e falta de estrutura há cerca de cinco anos
Compartilhamentos

Por SELES NAFES

Marcelo (nome fictício) saiu de casa há cerca de dois anos, deixando a esposa e uma filha para trás. Dominado pelo vício em álcool e cocaína e já vivendo nas ruas, não demorou para que ele também se tornasse dependente de crack. Nos últimos três meses, ele passou a ver o Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) como um ponto de referência, um lugar onde pode se sentir seguro dormir e receber algum tipo de atenção ou até alimentos. Infelizmente, não é só ele.

O CAPS AD (Álcool e Drogas) é um serviço prestado pela Secretaria de Saúde do Estado (SESA) e funciona há cerca de 10 anos no mesmo endereço, na Avenida Cora de Carvalho, no bairro Central de Macapá.

Atualmente, cerca de 600 pacientes são atendidos regularmente, alguns de forma voluntária, outros por pressão da família ou determinação da Justiça. O atendimento ocorre de segunda a sexta, das 8h às 18h, com terapias, acompanhamento psicológico, psiquiátrico e distribuição de medicamentos.

Há cerca de cinco anos, segundo servidores mais antigos, o prédio parou de receber manutenção adequada, acumulou problemas estruturais e alugueis atrasados. As consultas e outros atendimentos para pacientes e familiares, como rodas de conversa, ocorrem em salas precárias. Há apenas um consultório psiquiátrico, e um dos principais médicos ameaça pedir demissão.

Objetos pessoais guardados no muro…

Lixo vai se acumulando no terreno ao lado…

…onde também fazem suas refeições

Em 2022, quando o Portal SN publicou uma reportagem sobre o assunto, a Sesa informou que o Caps AD seria transferido para uma sede definitiva.

Acampamento

Nos últimos três meses, no entanto, a situação do CAPS se agravou ainda mais com o aumento do número de usuários acampando na frente ou no terreno ao lado, onde eles improvisam refeições e colocam cadeiras para permanecerem sentados o dia inteiro.

Alguns chegam a usar o terreno vizinho para vender vagas de estacionamento. Enquanto isso, outros cozinham em latas de manteiga ou penduram roupas e pertences no muro do CAPS, transformando-o em um armário improvisado.

“Acho que aqui eles se sentem mais seguros, mas está ficando uma situação insustentável”, comenta uma servidora.

Um dos usuários ‘vende’ vagas de estacionamento

Situação piora a cada dia: “insustentável”

Caps funciona há 10 anos no mesmo endereço, mas há cinco anos parou de receber a devida atenção da Sesa

Os funcionários do Caps também trabalham apreensivos. Recentemente, a porta da recepção foi quebrada por um dependente em surto psicótico. Também há houve furtos dentro do prédio.

Enquanto a mudança para a sede definitiva não ocorre, o acampamento vai apenas crescendo ao lado e na frente do Caps. É como se o serviço também estivesse doente, precisando de tratamento.

 

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!