Por HUMBERTO BAÍA
No extremo norte do Amapá, o município de Oiapoque abriga um dos projetos mais autênticos de turismo de base comunitária do Brasil. Em meio às Terras Indígenas Galibi, Juminã e Uaçá, habitadas por mais de 10 mil indígenas das etnias Palikur, Karipuna, Galibi Marworno e Galibi Kali’na, os visitantes têm a oportunidade de conhecer o modo de vida desses povos de forma respeitosa e imersiva.
A iniciativa, liderada por comunidades locais, oferece um percurso turístico chamado Paläbala, que leva os participantes a uma experiência autêntica na aldeia Galibi. Fundada em 1950 por famílias Kali’na migradas da Guiana Francesa e do Suriname, a aldeia se destaca pela preservação de tradições e conhecimentos ancestrais, agora compartilhados por meio do turismo comunitário.

As biojoias produzidas pelos indígenas do Oiapoque refletem a conexão com a natureza e os saberes ancestrais, transformando sementes e materiais naturais em arte. Fotos: Humberto Baía
Um Turismo Sustentável e de Respeito
O projeto de turismo de base comunitária no Oiapoque busca promover um modelo sustentável de visitação, em que os próprios indígenas guiam os turistas por atividades que vão desde caminhadas na mata e passeios de barco pelo rio Oiapoque até interação cultural com a comunidade, como rodas de conversa, artesanato e gastronomia tradicional.
Diferente do turismo convencional, essa iniciativa prioriza a gestão coletiva dos recursos e o fortalecimento das organizações indígenas. Alinhado às diretrizes da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas e à Instrução Normativa 03/2015 da FUNAI, o projeto exige um Plano de Visitação estruturado, garantindo a sustentabilidade e o respeito às comunidades.

Vista aérea da comunidade, às margens do rio Oiapoque

No percurso Paläbala, visitantes conhecem de perto o cotidiano dos povos indígenas, participando de rituais, trilhas e atividades no rio Oiapoque.
A Experiência na Aldeia Galibi
Na aldeia Galibi, os visitantes podem acompanhar o dia a dia da comunidade e conhecer mais sobre a história da migração Kali’na, sua organização social e os desafios de preservação cultural. O roteiro inclui:
Visita à comunidade: História da aldeia, tradições e estrutura social.
Atividades na mata e no rio: Trilhas ecológicas, observação de fauna e flora, e passeios de barco.
Interação cultural: Roda de conversa, artesanato e gastronomia tradicional.

Feitas à mão, as biojoias da comunidade indígena valorizam a cultura local e são uma fonte sustentável de renda para as famílias da região
Para a vice-cacique Renata Lod, o turismo comunitário representa uma estratégia para a geração de renda e a proteção territorial:
“O projeto é mais uma fonte de sustento para as famílias diante das dificuldades que enfrentamos. Mas, acima de tudo, é uma forma de preservar e fiscalizar nosso território, buscando um desenvolvimento que respeite o meio ambiente e a cultura dos povos indígenas do Amapá”, afirma.
A iniciativa é promovida pela associação Na’na Kali’na, que atua diretamente na organização das atividades e na gestão do turismo comunitário.
Impactos e DesafiosAlém de gerar renda, o projeto busca fortalecer a governança indígena e ampliar a consciência sobre a proteção do território. No entanto, as comunidades enfrentam desafios como biopirataria, invasões e os riscos do turismo desregulado. Por isso, todas as atividades são desenvolvidas com regras claras, garantindo a segurança dos visitantes e a preservação ambiental.
Como Participar
Interessados em conhecer essa experiência podem entrar em contato com os organizadores pelo telefone (96) 99914-3499. A visita proporciona não apenas um mergulho na cultura indígena, mas também a possibilidade de contribuir para o fortalecimento das comunidades do Oiapoque.
Uma Experiência Transformadora
O turismo de base comunitária no Oiapoque é um exemplo de como a valorização cultural pode andar de mãos dadas com a preservação ambiental. Para os visitantes, é uma oportunidade única de vivenciar a Amazônia de forma autêntica. Para as comunidades indígenas, representa um caminho de autonomia e resistência.