Por JONHWENE SILVA, de Santana
A cidade de Santana, a 17 km de Macapá, vive nesta quinta-feira (24) um dia marcado pela dor, pela comoção e pela exigência de justiça. Duas mulheres santanenses, vítimas de feminicídio em diferentes estados do país, estão sendo veladas simultaneamente. Jenife Silva, de 37 anos, e Luiza Clara, de apenas 24, compartilham histórias que, além de trágicas, possuem impressionantes coincidências: ambas eram jovens, bonitas, sonhavam em ser médicas, eram mães de dois filhos e, agora, têm seus corpos velados no mesmo dia, após terem sido assassinadas longe de casa.
A coincidência entre as duas histórias, marcadas por juventude, maternidade, sonhos interrompidos e violência, chocou ainda mais a população de Santana. Ambas partiram em busca de uma vida melhor e, de forma cruel, retornam à sua terra natal para despedidas simultâneas. Em cada lágrima derramada nesta quinta-feira, ecoou também um grito de justiça.
Logo nas primeiras horas da manhã, amigos e familiares de Luiza Clara se reuniram na Câmara de Vereadores de Santana para o velório. A jovem foi assassinada pelo próprio marido em Criciúma (SC), e o suspeito está preso. Ela havia se mudado para o sul do país com o objetivo de construir uma vida melhor e cursar medicina, mas encontrou a morte de forma brutal.
“É triste. A gente imagina que uma menina tão jovem, saiu de sua cidade para tentar vencer na vida ao lado do marido, acaba sendo morta pelo próprio marido. Pela sua memória e pelo seu nome, não vamos deixar isso passar em branco”, declarou Isabela Nery, madrasta de Luiza.
O sepultamento ocorreu por volta das 10h da manhã. O pai da jovem, que ainda está em Criciúma, tenta a guarda das duas crianças deixadas por ela.

Luiza havia dado à luz o segundo filho menos de 1 mês atrás

Velório dela na Câmara Municipal de Santana…. Foto: Jonhwene Silva/SN
Enquanto isso, em uma capela funerária no centro da cidade, acontecia o velório de Jenife Silva. A estudante de medicina foi até Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para buscar o certificado de conclusão do curso, e acabou sendo morta.
A cerimônia de despedida começou às 10h, reunindo familiares, amigos e autoridades locais. Comovidos, todos lamentavam a tragédia que encerrou de forma precoce a trajetória da mulher que também era mãe de dois filhos.
A tia de Jenife, Gracilene Borges, relatou a dificuldade enfrentada pela família para buscar respostas e cobrar justiça, especialmente diante da burocracia e da falta de colaboração das autoridades bolivianas.

Adeus a Jenife

Amigos adesivam carros…

…para sepultamento que também será protesto

Vítima esperava o certificado de conclusão do curso quando foi assassinada. Foto: Reprodução
“Nós tivemos que solicitar uma nova autópsia ainda na Bolívia, porque o laudo da perícia era muito vazio. Tivemos que constituir advogados e até mesmo enfrentamos dificuldades financeiras. O que a gente espera é que seja feita justiça. Hoje será feita uma espécie de reconstituição do caso, que será acompanhada pelos nossos advogados. Não vamos desistir. Pela memória da Jenife”, afirmou.
O sepultamento de Jenife está previsto para ocorrer às 16h, no cemitério Santa Ana.