Ex-presidente da OAB diz que advogado não tem liberdade para entrar na cena do crime

Auriney Brito se posicionou após prisão em flagrante de uma advogada no local onde 7 homens foram mortos pela PM do Amapá
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Por SELES NAFES

A prisão em flagrate de uma advogada no local onde a Polícia Militar do Amapá matou 7 ocupantes de um Ônix, no último dia 3 (eles teriam atirado em policiais durante uma perseguição), gerou intensos debates acalorados nas redes sociais. O ex-presidente da OAB do Amapá, Auriney Brito, que ficou à frente da entidade por três mandatos consecutivos, decidiu colocar mais lenha na fogueira ao se posicionar de forma contrária à invasão da cena do crime. Para ele, prerrogativa do advogado não pode ser sinônimo de autoristarismo do próprio profissional.

Brito postou um artigo de opinião no Instagram sob o título:

Advogado tem liberdade para entrar na cena do crime“?  

“Hoje fui muito consultado sobre o caso da advogada detida em uma operação policial que resultou na morte de sete pessoas em Macapá. A imagem é forte. A repercussão é imediata. Mas por trás do choque, há uma verdade que alguém precisa ter coragem pra dizer:

Embora o advogado tenha prerrogativas para estar na cena de um crime, é preciso bom senso para reconhecer seus limites. Não é limitar a atuação, é gerenciar a crise. Não podemos olhar só para a consequência, é preciso identificar a causa.

O ambiente é tenso e envolve riscos que só podem ser controlados pelas autoridades que possuem treinamento tático específico. Imagine se o tiroteio recomeça por qualquer motivo? A Tragédia poderia ser maior.

As prerrogativas servem pra combater os abusos das autoridades, mas não podemos desejar usá-las para sermos nós os autoritários. Se houve excesso da polícia, Que sejam afastados para apuração e eventual punição. O cenário é de guerra.

De qualquer maneira, a presença de uma colega, naquele ambiente, naquelas condições, ultrapassa o caso individual. Atinge toda a classe. Desgasta nossa imagem. Diminui nossa autoridade. Fragiliza nosso respeito institucional.

Somos responsáveis uns pelos outros. Principalmente quando estamos em cargos de gestão, onde postura, prudência e exemplo deixam de ser virtudes pessoais e se tornam obrigações públicas. 

Carro onde estavam os ocupantes que foram mortos pela polícia

Parentes entraram em desespero durante velório de quatro dos 7 ocupantes do carro e pediram justiça. Foto: Marvin Viana

É preciso ter coragem e firmeza, sim! Mas sem comprometer sua integridade e a dignidade de uma classe inteira. Um advogado de família, por exemplo, não vai à residência do casal no meio da briga para preparar o divórcio.

A advogada trabalhista não invade a empresa pra exigir direitos do seu cliente demitido injustamente; O tributarista não pode entrar na Receita a hora que quiser e rasgar os papéis dos tributos cobrados indevidamente. Ele tem razão, mas não pode ser na sua forma e tempo!

E o criminalista também tem limites. Legais, éticos e de bom senso, mesmo quando possuem direitos. Respeito não se compra, se conquista. Autoridade não se impõe no grito, se eleva com diálogo e sabedoria. 

Somos essenciais à Justiça, mas não donos dela. E mesmo quando somos donos da casa, temos que saber respeitar as visitas”.

Seles Nafes
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