Por RODRIGO DIAS
Familiares e amigos de Leandro de Sousa Abreu, presidente do Sindicato dos Taxistas de Macapá (Sindtaxi), morto durante uma ocorrência policial em 26 de maio de 2023, no bairro Muca, zona sul da capital, realizaram um protesto em frente ao Fórum de Macapá na manhã desta segunda-feira (26). A mobilização cobrou celeridade no andamento do processo e a realização de um júri popular para o caso.
Leandro, que cursava o último ano de Engenharia Civil, é lembrado pelos familiares como um homem dedicado à família, ao trabalho e aos estudos. Ele deixou duas filhas, de 10 e 17 anos.
A esposa do taxista, Dirce Nayra Abreu, falou sobre o impacto da perda na vida da família:
“Minha vida virou de cabeça para baixo. Um dia tudo estava normal, e no outro, desmoronou. Minhas filhas também mudaram, hoje fazem tratamento psicológico para tentar entender o que aconteceu. Afetou tudo na nossa vida. Pedimos justiça para ter algum alívio. Não vamos ter paz, mas queremos que a sociedade saiba que quem morreu ali não era bandido — era pai, filho e marido”, desabafou.

Dirce Nayra Abreu, esposa do taxista
A mãe de Leandro, Nalda Marques, também se manifestou durante o ato:
“Ele era muito ligado à família. Infelizmente, aconteceu essa abordagem desastrosa da PM, que se achou no direito de tirar a vida de um trabalhador. Não queremos que o caso caia no esquecimento. A luta continua, porque ele era um cidadão de bem e queremos justiça”.

Nalda Marques, mãe de Leandro: “A luta continua, porque ele era um cidadão de bem e queremos justiça”
Versões conflitantes
A Polícia Civil informou que, durante os depoimentos, apenas o comandante da guarnição prestou esclarecimentos, confirmando a versão apresentada no relatório da ocorrência e respondendo a novas perguntas do delegado. Os demais policiais optaram por permanecer em silêncio.
Versão da família e defesa
Em 2023, o advogado Marlon Melo, da assessoria jurídica do Sindtaxi, anunciou que pediria a prisão preventiva dos policiais. Ele alegou que a cena do crime teria sido alterada e que uma das duas armas encontradas no carro não pertencia aos ocupantes.

Leandro era presidente do Sindicato dos Taxistas de Macapá
Segundo a defesa, Leandro era Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) e portava uma arma registrada. Melo afirmou que Leandro havia sido acionado por um sobrinho adolescente para ajudar na recuperação de uma bicicleta furtada. O suspeito do furto, também adolescente e monitorado por tornozeleira eletrônica, estava no carro com Leandro no momento da abordagem.
“Ele foi prestar apoio à família. O menor foi revistado novamente e confirmou que não estava armado. A única arma no carro era a do Leandro”, afirmou o advogado.

A mobilização cobrou celeridade no andamento do processo
Ainda de acordo com Melo, o menor teria indicado o paradeiro da bicicleta, e a esposa do suspeito foi ao local buscá-la. Enquanto isso, Leandro, o sobrinho e o adolescente aguardavam no carro. Foi nesse momento que a polícia chegou.
Melo sustenta que, durante o trajeto, Leandro teria dito ao adolescente que o entregaria à polícia. Segundo ele, a mulher do suspeito afirmou que não houve agressão, apenas imobilização, e que ouviu os disparos quando voltava com a bicicleta.
O advogado alega que Leandro teria informado aos policiais que era CAC e que estava armado. Ele também afirmou possuir um vídeo que mostraria a dinâmica da abordagem, mas que o material só será divulgado após a conclusão do inquérito.
Os policiais envolvidos foram afastados do policiamento ostensivo e cumprem atualmente funções administrativas.

Protesto foi feito por familiares e amigos. Fotos: Rodrigo Dias
Defesa dos policiais
Os advogados Charles e Dirce Bordalo, que representam os policiais, informaram que pedirão a absolvição de seus clientes. Eles alegam que os agentes agiram em legítima defesa, diante de uma ameaça esboçada pelo taxista.