Por PEDRO PESSOA, correspondente do Portal SN em Belém
O caso da jovem autista Juliana Martins, de 19 anos, que teve 17 dentes extraídos durante um atendimento odontológico em Belém, ganhou novos desdobramentos nesta semana. Após grande repercussão nas redes sociais e em veículos de imprensa, vieram à tona documentos assinados pela mãe da paciente, supostamente autorizando o procedimento. No total, são quatro termos de consentimento: um para anestesia, outro para cirurgia geral, um terceiro para cirurgia oral e o quarto para periodontia — área da odontologia voltada para o tratamento dos tecidos de sustentação dos dentes.
Em um dos termos, consta o registro de que 13 dentes seriam extraídos. A mãe de Juliana, no entanto, afirma que foram 17 dentes ao todo e que não foi devidamente orientada sobre a extensão da intervenção. Em entrevista ao repórter Pedro Pessoa, do Portal SelesNafes.Com, ela afirmou que não teve tempo de ler com atenção os documentos devido à agitação da filha no momento da triagem.
“Assinei achando que era só sobre a sedação”, disse, visivelmente abalada.
Apesar dos documentos, o caso reacendeu o debate sobre a necessidade de uma comunicação mais empática, clara e acessível entre equipes médicas e familiares de pessoas com deficiência. A família afirma que houve falta de sensibilidade da equipe, o que contribuiu para o sentimento de violação e desrespeito com Juliana.

Família foi surpreendida com os 17 dentes extraídos

A mãe Izabella: assinei achando que era só sedação. Fotos: Pedro Pessoa
O Conselho Regional de Odontologia do Pará (CRO-PA) também se manifestou sobre o caso. O presidente do órgão, Marcelo Folha, afirmou que os relatos geram indignação e que o Conselho está pronto para instaurar procedimento ético, caso receba denúncia formal acompanhada de documentação.
“Os relatos nas redes sociais provocam indignação, mas é preciso esclarecer o papel do CRO: apurar e deliberar sobre possível infração ao Código de Ética Odontológica. Em caso de condenação, as sanções podem chegar até à cassação do registro profissional”, destacou o presidente.
Entenda o caso
Juliana foi levada ao CIIR (Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação) para um procedimento odontológico considerado de rotina: uma limpeza dentária e possível restauração. Por ser autista em grau severo (nível 3), seus atendimentos são realizados sob sedação e sempre com acompanhamento familiar. No entanto, ao final da consulta, a família foi surpreendida com a informação de que 17 dentes haviam sido extraídos, sem que houvesse comunicação prévia durante o procedimento.

Izabella, irmã de Juliana: mutilação
A irmã de Juliana, Izabella Martins, afirmou que inicialmente foi negado à família o acesso ao prontuário da jovem. Segundo ela, em reunião com a coordenação da unidade, foi informado que a decisão pela extração foi tomada durante o procedimento, pelo próprio profissional.
“Não poderiam ter feito isso sem consultar a família. Foi uma mutilação”, declarou Izabella.
O caso gerou forte comoção nas redes sociais e provocou uma resposta do governador do Pará, Helder Barbalho, que determinou o afastamento imediato do profissional envolvido e a abertura de uma investigação sobre o ocorrido.
A família registrou boletim de ocorrência, procurou o Instituto Médico Legal (IML) para realização de exame de corpo de delito e informou que também formalizará denúncia no Conselho Regional de Odontologia. As investigações seguem em andamento.