Amapaense apresentará nos EUA extrato de plantas que elimina larvas do Aedes Aegipty

Substância à base de partes florais e foliares da Rosa do Deserto e da Citronela se mostrou 100% letal para as larvas do mosquito em todos os testes realizados.
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Por RODRIGO DIAS

Uma pesquisa inovadora desenvolvida na Escola Estadual Mário Quirino, em Macapá, promete ser um divisor de águas no combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya.

O projeto, liderado pela professora de Biologia Rose Benedita Rodrigues Trindade e pela aluna Débora Priscilla Valadares, de 16 anos, resultou na criação de um extrato etílico à base de partes florais e foliares de Rosa do Deserto (Adenium obesum) e Citronela (Cymbopogon winterianus) que se mostrou 100% letal para as larvas do mosquito em todos os testes realizados.

A ideia, considerada inédita, surgiu da percepção da professora Rose de que a Rosa do Deserto, uma planta comum em sua casa, não apresentava visitação floral. Essa observação inicial despertou a curiosidade e impulsionou um mês de levantamento bibliográfico junto aos alunos, que, apesar de encontrar poucas informações específicas, serviu de base para o desenvolvimento do projeto.

Os testes se mostraram …

… 100 % eficazes na eliminação das larvas do mosquito

Persistência e poder das plantas

Apesar de vários estudantes terem participado da fase inicial, apenas Débora Priscilla Valadares seguiu firme no projeto. Essa persistência, como se provou, não foi em vão. A professora Rose explica que a Rosa do Deserto possui estruturas do grupo dos glicosídeos cardiotóxicos, que atuam inibindo o funcionamento da bomba de sódio-potássio da membrana celular das larvas, um mecanismo letal para o mosquito.

Além disso, a inclusão da citronela, já conhecida por suas propriedades repelentes, trouxe um componente inovador ao extrato. De maneira inédita, a citronela, neste caso, funciona como um agente letal para as larvas do Aedes aegypti quando combinada no extrato etílico.

Extrato etílico é à base de partes florais e foliares de Rosa do Deserto (Adenium obesum) …

… e Citronela (Cymbopogon winterianus). Fotos: Rodrigo Dias

“Para os testes de letalidade, contamos com o apoio do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), que nos forneceu mais de 800 larvas. Nós constatamos a eficiência de 100% do produto em todos os estágios larvais do Aedes aegypti. Este produto também inibiu em 100% a eclosão dos ovos”, relata a professora Rose.

De Macapá para Nova York

O sucesso do projeto, desenvolvido na Escola Mário Quirino, rendeu frutos e reconhecimento. Em 2024, o trabalho participou da Feira de Ciências e Engenharia do Amapá (FECEAP), onde conquistou uma vaga para a MCTIA Mostra de Ciências e Tecnológica do Instituto Açaí, em Belém do Pará. Lá, o projeto foi credenciado para apresentar na Genius Olympiad, que será realizada na cidade de Rochester, Nova York, em junho de 2025.

“Estamos indo no próximo domingo, dia 8 de junho. São 87 países que vão apresentar mais de 800 projetos”, celebra a professora Rose. “É uma imensa felicidade estar representando minha escola Mario Quirino e o meu Amapá nessa feira internacional que busca dar voz para os projetos inovadores. Estou honrada em ter essa oportunidade de apresentar um projeto que busca mitigar o problema do Aedes aegypti tão presente em nossa sociedade.”

A professora e a aluna embarcam para os Estados Unidos neste domingo (8). Fotos: Rodrigo Dias

A professora e a aluna embarcam para os Estados Unidos neste domingo (8), contando com o apoio do Governo do Amapá, através da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Setec) e da Secretaria de Estado da Educação (Seed).

Para a apresentação em inglês do projeto, que já vem sendo testado há um ano e aprimorado a cada participação em feiras, Débora está tendo aulas intensivas com a professora Patrícia Rabelo. O extrato se mostrou eficaz, com letalidade das larvas variando de 15 segundos a 1 hora e 17 minutos.

Persistência de Débora não foi em vão

Produto orgânico

Além da eficácia impressionante, o produto desenvolvido pela equipe amapaense apresenta uma característica fundamental: sua composição orgânica e volátil. Isso significa que, ao ser aplicado em ambientes como recipientes com água, o extrato não prejudica o meio ambiente, tornando-se uma solução sustentável e inovadora para o controle do mosquito.

A diretora da Escola Mário Quirino, Gisele Braz, destaca a importância de apoiar projetos exitosos.

“É extremamente importante para o gestor apoiar os projetos exitosos que os professores têm trazido para as escolas públicas. São projetos que fazem com que o jovem trabalhe a questão da BNCC [Base Nacional Comum Curricular] na prática. E nós nos sentimos orgulhosos desse dinamismo que hoje a Mário Quirino tem tido com relação aos projetos exitosos e científicos”, disse.

A diretora Gisele Braz: “Nos sentimos orgulhosos desse dinamismo que hoje a Mário Quirino tem tido com relação aos projetos exitosos e científicos”

Gisele revelou ainda que a escola tem atualmente 12 projetos que serão apresentados na FECEAP, abordando temas como carbono, dengue e utilização de materiais orgânicos para plantio.

“É toda uma situação, que é real, que acontece no dia a dia das famílias e que a gente vê o quanto nosso aluno fica engajado trabalhando as questões da nossa realidade, do nosso meio ambiente e da nossa escola”, conclui.

A expectativa é nada mais nada menos que o projeto da Escola Mário Quirino inspire novas pesquisas e contribua para o combate ao Aedes aegypti em nível global.

Seles Nafes
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