Empresário que atirou contra delegado já foi investigado por tráfico de material radioativo

João Luís Pulgatti foi tema de reportagem em 2006 sobre o comércio de urânia e tório no Amapá
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Por SELES NAFES

O empresário do setor de mineração João Luís Pulgatti, preso na última sexta-feira (4) após ameaçar e atirar contra a casa e a viatura de um delegado da Polícia Civil em Macapá, tem um passado controverso que inclui suspeitas de envolvimento com o tráfico internacional de material radioativo. Em 2006, reportagem da revista IstoÉ revelou que Pulgatti era apontado pela Polícia Federal como um dos principais nomes de um esquema que explorava ilegalmente urânio e tório no Amapá, minerais altamente radioativos.

As investigações, tratadas à época como segredo de Estado, começaram em 2004, quando a PF apreendeu no interior do estado 18 sacas de um mineral escuro e pesado, que, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), era um composto de urânio e tório. A partir daí, agentes federais descobriram uma rede clandestina de extração e comercialização desses minérios, com ramificações internacionais e possível elo com grupos extremistas.

De acordo com as apurações, João Pulgatti liderava um dos três principais grupos envolvidos no esquema. Dono de empresas de mineração no Amapá, ele possuía autorizações oficiais para pesquisar jazidas de ouro, mas, segundo a PF, aproveitava a estrutura para explorar e negociar material radioativo. Nas gravações telefônicas obtidas pelos investigadores, Pulgatti aparece negociando com garimpeiros e representantes de compradores internacionais, entre eles o canadense John Young, seu sócio à época, segundo informou a reportagem.

Torianita é radioativa e encontrada facilmente em terras do Amapá

A Polícia Federal suspeitava que o minério extraído ilegalmente no Amapá estava sendo enviado para países como Rússia, Coreia do Norte e algumas nações africanas. As escutas também revelaram possíveis ligações do esquema com autoridades e políticos brasileiros, que, segundo os agentes, facilitavam processos e concessões no setor de mineração.

A Operação Ouro Negro, como foi batizada pela PF, mobilizou órgãos como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e gerou preocupação até no Palácio do Planalto, devido ao risco de o urânio parar nas mãos de grupos terroristas. Apesar da repercussão na época, o caso não resultou em condenações contra Pulgatti, que continuou atuando no ramo mineral.

Agora, quase duas décadas depois, o empresário volta ao noticiário policial. Preso em flagrante após efetuar disparos contra um delegado vizinho de condomínio, na zona oeste de Macapá, ele responderá por tentativa de homicídio e posse irregular de arma de fogo. Pulgatti tem ao menos 88 processos registrados em seu nome, incluindo queixas por violência doméstica.

Seles Nafes
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