Por SELES NAFES
A Amazonbai, maior cooperativa de extrativistas de açaí do Amapá (criada em 2017), cancelou a exportação de 1,5 tonelada do fruto para os Estados Unidos, por consequência da nova tarifa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump. A informação foi confirmada pelo Portal SN com o presidente da cooperativa, Amiraldo Picanço. Somente um dos clientes da cooperativa está com 10 toneladas paralisadas quando estava prestes a embarcar para a América do Norte.
“Há 40 dias, um cliente nosso comprou 10 toneladas de polpa. Ele levou pra São Paulo, mas tá parada no Porto de Santos por conta desse tarifaço. Temos vários relatos de outros na mesma situação. O EUA é o nosso maior comprador, responsável por mais de 50% do que produzimos”, explicou Picanço.
No caso da 1,5 tonelada, o prejuízo estimado pode chegar a R$ 480 mil para os 151 produtores da cooperativa, que atua principalmente no arquipélago do Bailique, a maior comunidade ribeirinha do Amapá. Além de produtores do Bailique, o processo envolve famílias indígenas Waiãpi e Beira Amazonas.
A cooperativa vinha exportando para os EUA duas versões do açaí: polpa congelada e açaí liofilizado em pó. A remessa em pó prevista para julho foi cancelada devido à nova taxa, que tornou o produto inviável no mercado americano.
Segundo Amiraldo Picanço, os embarques começaram em 2023 com intensificação em 2024, e já somavam quatro remessas concluídas com sucesso. A quinta foi abortada em função dos custos elevados trazidos pelo “tarifaço”.

151 filiados da cooperativa foram afetados. Foto: Amazonbai

Açaí estava sendo exportado para os EUA em dois formatos

Processamento na fábrica da Amazonbai
“Com essa tarifa, a gente simplesmente fica fora do jogo. Estamos agora estocando o que podemos, encerrando a safra do açaí no Amapá, e buscando alternativas na Europa, no norte da África e na Ásia. O Brasil não pode ficar refém do mercado americano”, afirmou Amiraldo.
Impactos econômicos e cenário regional
Dados do IBGE de 2024 indicam que o açaí movimentou R$ 65 milhões no Amapá, com cerca de 22 mil toneladas produzidas em 1.760 hectares, sendo parte significativa desse volume exportada para os EUA. O fruto é um dos principais motores da economia local e cultural das comunidades ribeirinhas.
A tarifa, que ainda não entrou em vigor oficialmente — prevista para começar em 1º de agosto — já provocou efeitos imediatos no comércio e na confiança dos produtores.