Por PEDRO PESSOA, especial de Belém para o Portal SN
Símbolos da cultura alimentar amazônica, pratos como açaí, tucupi e maniçoba chegaram a ser vetados dos cardápios da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em novembro, em Belém. A decisão, estabelecida em edital da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), provocou forte reação de especialistas, chefs de cozinha e representantes da cultura nortista.
No documento divulgado nesta semana, a OEI listava alimentos proibidos nos restaurantes e quiosques do evento, alegando riscos sanitários. O açaí, por exemplo, foi barrado sob a justificativa de possível contaminação pelo Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. O tucupi e a maniçoba foram vetados por “poderem conter toxinas naturais” caso não fossem devidamente preparados. A lista incluía ainda molhos caseiros, ostras cruas, carnes malpassadas, leite cru e derivados não pasteurizados, doces com ovos sem refrigeração e gelo artesanal.
A medida gerou repercussão negativa imediata. A pesquisadora de cultura alimentar amazônica, Joana Martins, classificou a restrição como “ignorância, estupidez e preconceito cultural indescritíveis”.

Pesquisadora Joana Martins: “uma ignorância”. Fotos: Reprodução/Instagram

Chef Thiago Castanho: “não reconhecem o valor que temos aqui”

Coordenação da COP chegou a proibir o consumo…

Reação de entidades…
O chef Thiago Castanho também criticou duramente a decisão, chamando o episódio de xenofobia.
“Mais de 20 anos que eu trabalho com gastronomia e ainda vejo esse tipo de dificuldade de entendimento sobre nossa cultura. Não reconhecem o valor do que temos aqui”, afirmou.
Diante da pressão, a OEI voltou atrás. Após articulação do governo federal, por meio do ministro do Turismo, Celso Sabino, a organização publicou uma errata no edital, autorizando a presença dos alimentos regionais no evento. Em nota, a entidade informou que a mudança ocorreu após “análise técnica” e destacou que a seleção dos fornecedores ainda vai detalhar a forma de oferta dos pratos.
Segundo o edital, pelo menos 30% dos insumos deverão vir da agricultura familiar. Também será priorizada a participação de cooperativas, associações, comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas, mulheres rurais e juventudes do campo, valorizando a sociobiodiversidade da Amazônia.