EDITORIAL
Com exceção da legítima defesa, a violência nunca é justificável, sobretudo quando parte de quem ocupa um cargo público. No último domingo (17), o prefeito de Macapá, Antônio Furlan (MDB), teve a chance de dar uma demonstração de inteligência emocional ao ser questionado pelo jornalista Heverson Castro sobre um suposto atraso nas obras do Hospital Municipal da zona norte. Poderia ter aproveitado a oportunidade para transformar a pergunta em propaganda de sua gestão, esclarecer prazos e reforçar conquistas. Em vez disso, escolheu o caminho da hostilidade: perdeu o controle, agrediu o cinegrafista Iran Fróes e permitiu que a confusão tomasse proporções vergonhosas.
O que se seguiu foi ainda mais preocupante. Assessores e apoiadores do prefeito correram às redes sociais para tentar justificar o injustificável. Mais que isso: passaram a incitar a violência contra comunicadores, em postagens e até em uma charge que glorifica a agressão com o bordão “bom de voto, bom de porrada”. Trata-se de uma estratégia perigosa, que não apenas legitima o autoritarismo, mas também mina o espaço democrático da imprensa livre, essencial para a fiscalização do poder.

Jornalistas liberados após exame de corpo de delito ter dado negativo
O episódio terminou com os jornalistas detidos por mais de seis horas na Delegacia de Crimes Contra a Mulher, sob a acusação de terem agredido uma assessora de Furlan. A perícia desmentiu a versão, revelando a tentativa de inverter a narrativa. O vídeo amplamente divulgado — inclusive pela imprensa nacional — mostra, sem margem para dúvidas, um prefeito pilhado, descontrolado e incapaz de suportar a pressão de uma pergunta.
Ao atacar jornalistas, o prefeito não apenas mancha sua imagem, mas transmite à sociedade um recado perigoso: o de que a força pode substituir o diálogo. É preciso lembrar que governar não é impor medo, mas prestar contas, dialogar e exercer liderança com serenidade. O que Macapá viu foi o oposto disso: uma cena de truculência que envergonha o cargo e fragiliza ainda mais a confiança no gestor.