Por SELES NAFES
Desde que perdeu a filha, o procurador da prefeitura de Macapá, Raul Silva Júnior, decidiu mergulhar no tema dos suicídios para tentar ajudar outras pessoas que enfrentam o mesmo drama com a saúde mental. Nesta quinta-feira (4), ele palestrou na Câmara Municipal, durante sessão especial em alusão ao Setembro Amarelo, proposta pela vereadora Helenice (Podemos).
Em 2019, Raul perdeu a filha Aline, que tinha apenas 15 anos. Hoje, o procurador apresentou estudos e dados que mostram a gravidade do cenário: o suicídio é hoje a segunda maior causa de morte violenta entre jovens brasileiros, a maioria mulheres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2000 eram 11 mil casos por ano no Brasil e 800 mil no mundo. Atualmente, o número ultrapassa 20 mil mortes anuais no país.
No Amapá, as estatísticas da Vigilância em Saúde revelam que, desde 2019, os índices também preocupam. Em 2022, o estado registrou 35 suicídios, o maior número até agora. Em 2023 foram 24 registros, e até julho de 2025 já havia 22 ocorrências.
“Depressão não é frescura. Ansiedade é uma doença. Quando o filho fica muito tempo dentro do quarto, isso pode não ser apenas uma fase da adolescência. Pode ser mais grave que isso”, alertou Raul. Ele defendeu que a sociedade precisa aprender a lidar com o tema, e que ouvir sem julgamentos pode salvar vidas.

Dados enviados ao procurador pela Vigilância
O procurador também destacou a relação do suicídio com fatores genéticos, ambientais e transtornos psiquiátricos, alguns agravados pelo uso de drogas. Para exemplificar sobre o fator genético, citou a família de Getúlio Vargas, marcada por casos de depressão e suicídio em várias gerações.
“Getúlio Vargas se matou. O filho e o neto também. A bisneta é procuradora e hoje faz tratamento para depressão”, revelou.
Mídias
Raul ainda comentou a influência de produções audiovisuais na percepção dos jovens, citando a série “13 Reasons Why”, da Netflix, que foi criticada pela forma de abordar o suicídio. A série conta a história de uma adolescente que decide tirar a própria vida. Antes de morrer, ela grava 13 fitas nas quais explica as razões que a levaram à decisão. Cada fita é direcionada a uma pessoa que, de alguma forma, contribuiu para seu sofrimento.
O procurador lembrou que uma terceira temporada vêm sendo produzida para corrigir erros de narrativa da primeira, enfatizando que não se pode responsabilizar uma única pessoa, já que o problema envolve múltiplas causas.

Raul Silva Júnior: falar do assunto e compartilhar conhecimento sobre o problema é honrar a memória de Aline
Durante a sessão, a vereadora Luana Serrão compartilhou sua dor pessoal. Ela perdeu uma amiga de 19 anos, em 2021, e lamentou que a jovem tenha sido incompreendida em meio à crise.
“Enquanto ela estava aqui era mimimi, falta de Deus. Hoje sabemos que era falta de cuidados médicos. Estamos falando de saúde, e não de frescura. Precisamos de políticas públicas eficientes”, declarou, dedicando sua fala ao pai da amiga e à memória de Giovana.
Ainda nesta quinta-feira (4), o procurador fará uma palestra na Câmara Municipal de Santana.