Por ELDER DE ABREU
Uma mesa que pesa uma tonelada e mede mais de cinco metros tem chamado a atenção na 54ª Expofeira do Amapá não apenas pelo tamanho e imponência, mas pela curiosidade sobre a logística por trás da chegada dela até o Parque de Exposições da Fazendinha, em Macapá.
Para sair de Pedra Branca do Amapari, a maior peça rústica exposta no evento deste ano mobilizou 21 homens da comunidade na saída e um guindaste na chegada. A obra é assinada por Denise e Rosivaldo Castro, casal de artesãos ribeirinhos, que mora e trabalha às margens do Rio Amaparí, a 200 km da capital.

A obra é assinada por Denise e Rosivaldo Castro, casal de artesãos ribeirinhos, que mora e trabalha às margens do Rio Amaparí, a 200 km da capital. Fotos: Rodrigo Dias
Eles ocupam um espaço estratégico na feira, a poucos metros do portão principal, onde estão expostas, e à venda, mesas, bancos, tábuas de corte, fruteiras, cálices e outros utensílios que são verdadeiras esculturas em madeira.
Mas as grandes estrelas desse show são as mesas gigantes feitas de angelim pedra, madeira conhecida pela resistência e durabilidade, que podem acomodar até 20 pessoas e custam de R$ 5 mil a R$ 35 mil. Das mesas rústicas levadas para o evento de negócios, seis foram confeccionadas a partir de um único tronco de angelim pedra, demonstrando todo o trabalho artesanal e o tamanho da operação necessária para criar essas peças.
“Essa de cinco metros pesa mais ou menos mil quilos, uma tonelada. Lá na comunidade a gente junta 21 homens pra colocar dentro do caminhão. Quando chegou em Macapá, foi no guincho, porque não tinha como tirar na mão”, relembra Denise, com a naturalidade de quem já enfrentou mais de uma dessas ‘operações de guerra’ para expor seu trabalho.

Das mesas rústicas levadas para o evento, seis foram confeccionadas a partir de um único tronco de angelim pedra
Suor da comunidade
O processo de criação das peças é quase uma epopeia amazônica. Os troncos de angelim, sempre já caídos na floresta, são serrados em algumas partes por mutirões de homens na comunidade de Água Fria, no Amapari. Depois, são arrastados pelo meio da densa mata virgem até embarcações no Rio Amapari e levados até o barracão da família.
No galpão, entra em cena o talento de Rosivaldo e Denise, que contam ainda com a ajuda dos quatro filhos. O trabalho é artesanal: poucas ferramentas, nenhuma máquina elétrica, apenas força, paciência e técnica adquirida ao longo de 15 anos de dedicação ao artesanato em madeira.
“É muito manual, é força mesmo. Nosso trabalho é suor e é família”, resume Denise.

Também chamam atenção as tábuas de cortar carne, cálices e bandejas esculpidas pelo casal
Da floresta para o mercado
Na Expofeira, além das mesas ‘de rei’, também chamam atenção as tábuas de cortar carne, cálices e bandejas esculpidas pelo casal. Cada peça, grande ou pequena, carrega não apenas madeira, mas uma história de resistência, de cultura e de economia ribeirinha que se reinventa.
Na edição de 2024, eles fecharam uma venda de R$ 58 mil durante o evento. Este ano, a expectativa é superar o faturamento.

Cada peça, grande ou pequena, carrega não apenas madeira, mas uma história de resistência

São tábuas de corte, fruteiras, banfejas e vários outros utensílios
Quem quiser conhecer ou até negociar uma mesa pode visitar o estande ou acompanhar o trabalho pelo Instagram: @denise_artes_em_madeira e @angelinmoveisrusticos.
“Cada mesa tem uma história. Por trás de cada peça tem muito trabalho, mas também muito orgulho. A gente não tira nada da floresta que esteja em pé, só o que já caiu. Nosso trabalho é transformar o que a natureza oferece em algo que vai durar por muitos e muitos anos”, destaca Denise.