Por SELES NAFES
O que deveria ser apenas uma noite de artes marciais mistas acabou se transformando em um episódio político controverso no último fim de semana, em Porto Grande, a 105 km de Macapá. Dois vereadores em exercício de mandato — Jairison Ataíde Vales, o Conjaki, de Porto Grande, e Samuel Santos Paiva, o Dentinho, de Ferreira Gomes — subiram ao octógono para um combate no evento GFC Fight Night, realizado no Ginásio da Beira Rio.
A luta, cercada de grande expectativa e amplamente divulgada nas redes sociais, atraiu público expressivo e movimentou a cidade. Porém, também provocou reações negativas de órgãos de controle e da sociedade civil, principalmente pela participação de agentes políticos em exercício de mandato em um confronto físico transmitido e promovido como espetáculo midiático.
Dias antes do evento, o Ministério Público do Amapá havia emitido recomendação formal para que os parlamentares não participassem do duelo, mas eles mantiveram o confronto. Nesta segunda-feira (22), o promotor Júlio Kuhlmann assinou uma portaria instaurando um Procedimento Preparatório de Inquérito Civil, com o objetivo de apurar a regularidade do evento e a possível utilização de recursos públicos na organização da luta.
Na recomendação para que não lutassem, o promotor destacou que a participação de vereadores em um confronto físico “pode comprometer a dignidade da função pública e banalizar a atuação dos representantes eleitos, em um contexto de crescimento da violência política”.

Momento da luta

Duelo foi amplamente divulgado
O documento ainda apontou que a conduta dos parlamentares poderia representar “distorção da finalidade do mandato parlamentar”, transformando o cargo eletivo em palco de autopromoção pessoal, além de fragilizar a credibilidade do Legislativo perante a população.
A luta, principal atração da noite, foi divulgada como “combate histórico” entre representantes de cidades vizinhas, separadas por apenas 30 km.
Nas arquibancadas, moradores acompanharam o confronto em clima de rivalidade esportiva, mas a repercussão extrapolou os limites do ginásio. Nas redes sociais, a polêmica se dividiu entre quem elogiou a coragem dos vereadores e quem criticou a iniciativa como “desmoralização da política”.