Por OLHO DE BOTO
Uma família que trabalha com colheita e comercialização de açaí viveu momentos de terror na manhã de sexta-feira (3) e agora busca justiça. As vítimas foram torturadas e tiveram a casa incendiada por seis homens encapuzados, liderados por duas mulheres, reconhecidas como moradoras da região onde o ataque aconteceu – uma comunidade do Rio Baturité, no lado paraense de Afuá, a cerca de 4h30 de barco, partindo de Macapá.
O ataque ocorreu ao amanhecer. Rendido e com as mãos imobilizadas com abraçadeiras de nylon, o comerciante Alexandre da Silva Gonçalves, de 24 anos, contou que foi torturado, agredido com um terçado, ameaçado de morte e ainda baleado na coxa.

Casal de ribeirinhos procurou ajuda em Macapá. Fotos: Olho de Boto
A esposa dele, Dione de Souza Lobato, de 36 anos, viu a embarcação do grupo se aproximar e conseguiu correr para a mata. Ela escapou das agressões, mas o marido e o filho, um adolescente de 17 anos, foram espancados para confessar um suposto furto ocorrido na casa de uma das mulheres que liderava o bando.
“Eu estava deitada. Me levantei e vi quando a voadeira chegou. Eles foram logo na casa do meu irmão, onde meu filho estava. Derrubaram a porta. Meu irmão correu pro mato, mas o meu filho eles conseguiram pegar e bateram muito nele, deram coronhadas na cabeça dele. Depois foram lá em casa, agrediram o meu marido e levaram ele pra outra casa (do meu irmão). Tacaram fogo na nossa casa, queimaram meus documentos, do meu filho e do meu marido. Perdemos tudo”, relatou Dione.
Dias antes de ser baleado e ter a casa incendiada, Alexandre havia recebido a visita da mulher apontada como líder do grupo. Ela o acusou de participar de um furto na residência dela. O comerciante negou qualquer envolvimento, mas ouviu a ameaça de que ela voltaria com “amigos policiais” — o que de fato aconteceu na sexta-feira.

Alexandre foi torturado. Foto: Olho de Boto
Segundo Alexandre, ele foi torturado para confessar o crime.
“Ela ficava me fazendo perguntas, dizendo que eu tinha entrado na casa dela. Eu disse que não. Não tenho nada dela aqui. Aí a filha dela pegou a pistola, colocou na minha cabeça e falou: ‘Vai morrer hoje’. Eu só dizia: ‘Não me mata, não tenho nada a ver com isso’. Me levaram pra outra casa. Não conheço quem atirou, porque estavam encapuzados.”
A residência foi completamente destruída pelo incêndio. Os gatos que o casal criava morreram carbonizados. As vítimas ficaram apenas com as roupas do corpo.
“Estou todo cortado. Não sobrou nada. Tinha quatro gatinhas, elas morreram queimadas. Foi Deus que me salvou”, disse Alexandre.

Tiro na coxa para confessar participação em suposto furto. Foto: Olho de Boto
Após verem a casa virar cinzas enquanto os criminosos fugiam, as vítimas seguiram para Macapá em busca de socorro. Alexandre foi levado pelo Samu ao Hospital de Emergências, onde deverá passar por cirurgia para retirar a bala, ainda alojada na perna esquerda. Dione registrou boletim de ocorrência no Ciosp de Santana.
“Eu quero justiça. A gente nunca teve briga com ninguém. Foi cedo, sem motivo, chegaram e fizeram isso. Quero que paguem pelo que fizeram. Meu filho está com 17 anos. Levaram a mochila dele, as roupas, o dinheiro, os sapatos. Ficamos só com a roupa do corpo.”

Dione em frente ao que restou da casa: “Quero justiça”
Solidariedade
Sem casa, documentos, roupas ou alimentos, o casal pede ajuda para recomeçar. Quem desejar contribuir com doações de roupas ou financeiramente pode entrar em contato pelo número (96) 99138-0205 (Simone de Souza Lobato).