Por RODRIGO DIAS
Todos os dias, a orla de Macapá se prepara para o espetáculo do amanhecer. Antes mesmo do sol nascer, a jornalista Mariléia Maciel caminha por esse cenário, transformando a rotina dos trabalhadores e a majestade do Rio Amazonas em poesia em suas redes sociais. A beleza local é sua inspiração diária, seu “encontro com Deus”, como ela mesma descreve.
Mas a manhã desta quarta-feira (8) trouxe um flagrante que rachou o espelho da paisagem, dividindo a atenção entre a grandiosidade natural e a chocante falta de educação e consciência. A exuberância da orla, nas proximidades do Trapiche Eliezer Levy, cartão-postal da capital, deu lugar a uma imagem deprimente: lixo acumulado na beira do rio.

Imagem do mês de março: corredores de rua contrastam com a sujeira já contumaz nas margens do rio. Oito meses depois, problema persiste. Fotos: Mariléia Maciel
O registro fotográfico feito por Mariléia escancara o desrespeito ambiental. Garrafas PET, latinhas, pratos descartáveis, garrafas de bebidas alcoólicas, sacolas plásticas e até uma tampa de geladeira compõem a montanha de detritos.
A indignação da jornalista foi tornada pública em um texto contundente, que mistura exaltação à natureza com revolta pela incivilidade.
“Não canso de exaltar a beleza, força, energia, espetáculo que é a beira do rio Amazonas. Mas, infelizmente, temos que também falar do lado feio, que é obra de seres humanos imundos, sem educação, sem respeito com a natureza”, desabafou.

Flagrante de hoje pela manhã. Foto: Mariléia Maciel

Lixos de metal e plástico poluem o rio na orla de Macapá
Em sua publicação, Mariléia rebate o que chama de “baboseiras” — as desculpas cínicas de que “alguém vai passar e levar” ou de que “os catadores precisam disso para sobreviver”. Ela apela à responsabilidade individual e faz um chamado direto à consciência de quem frequenta a área.
“Seja você ribeirinho ou não, se vai beber, comer, jogue o plástico, lata, garrafa no lugar certo, que não é a beira do rio. Se vai descartar um objeto sem uso, ponha em um lugar onde outras pessoas possam reutilizar. Mas, por amor a Deus, à natureza, à humanidade, não jogue lixo no rio e nem nas ruas. Não destrua o meio ambiente. Não apresse o fim do planeta.”

Perto do muro de arrimo …

… havia todo tipo de lixo
Segundo a jornalista, embora o serviço público de limpeza esteja atuando e a quantidade de lixo tenha diminuído em comparação a dias anteriores, “ainda tem imundo sujando” — não apenas nesse trecho, mas em toda a orla. As fotos que ela vem registrando desde março mostram uma realidade que, segundo suas palavras, “dá vontade de chorar”.
O contraste capturado por Mariléia Maciel mostra que, enquanto a natureza de Macapá oferece diariamente um espetáculo indescritível, a falta de consciência de alguns insiste em transformá-lo em uma tragédia ambiental. A orla do Rio Amazonas está pedindo socorro — e, mais do que limpeza, clama por educação e respeito.