‘Que elas melhorem tanto quanto eu’, diz jovem que atropelou colegas de faculdade

Yandra, de 29 anos, acusou as vítimas de perseguição antiga em sala de aula; defesa cita doença e pede “olhar de empatia”
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Por RODRIGO DIAS

A estudante Yandra Ebonnie Souza dos Santos, de 29 anos, que atropelou duas colegas de faculdade após uma discussão em Macapá, afirmou que não teve intenção de matar. Em entrevista ao Portal SN na tarde deste sábado (11), Yandra acusou as vítimas — Dayane Moraes, de 19 anos, e Sthefany Ferreira, de 21 — de promoverem deboches, perseguição e preconceito, o que teria motivado o episódio ocorrido na última quinta-feira (9). As duas ficaram lesionadas, mas sem ferimentos graves.

Segundo Yandra, no dia do atropelamento, as provocações teriam sido intensas dentro da sala de aula.

A perseguição era tanta que eu pedi que o professor se posicionasse para que elas fizessem silêncio, porque eu não estava conseguindo me concentrar. A Sthefany enxergou isso como deboche, partiu pra cima de mim e começou a me agredir”, relatou.

A entrevista, realizada por chamada de vídeo, foi acompanhada pelas advogadas Kelly Ferreira, Érika Furtado e pelo advogado Rorinaldo Gonçalves, que integram a equipe de defesa.

Kelly Ferreira, Érika Furtado e Rorinaldo Gonçalves, advogados de Yandra acompanham entrevista. Foto: Rodrigo Dias

O caso ganhou grande repercussão após a divulgação de um vídeo de monitoramento que flagrou o momento em que Yandra atinge as duas estudantes. O veículo pertence ao companheiro de Yandra, e tem placas da Guiana Francesa.

As vítimas foram socorridas e, posteriormente, prestaram depoimento à Polícia Civil, acusando a colega de perseguição e de crimes raciais. Yandra ainda não se apresentou para prestar depoimento. A Polícia Civil pediu a prisão dela, mas a justiça ainda não decidiu.


A versão de Yandra: ameaças e motivação

Mãe solo de três filhos — um deles, de 11 anos, com transtorno do espectro autista —, Yandra alegou ser alvo de ataques virtuais desde o atropelamento. Disse também que vinha sendo ameaçada por ser amiga da ex-companheira de uma das vítimas.

Eu não quis matar as meninas, apenas dar um susto. Eu sinto muito pelas pessoas que elas também são, de falar sobre assuntos delicados que eu sofri na minha infância, do meu abuso, por terem tentado atingir meus filhos. Eu desejo que elas também melhorem (como pessoa), tanto quanto eu. Nada justifica o que foi feito, porque não foi minha intenção machucar ninguém. Eu também quero justiça, porque não é a primeira vez que elas causam dor às pessoas”, declarou.

“Que elas melhorem, assim como eu”

As duas vítimas prestaram depoimento na polícia. Foto: Rodrigo Dias

A acusada manifestou alívio ao saber que as colegas estão fora de perigo e pediu desculpas às famílias. Disse ainda estar disposta a colaborar integralmente com a Justiça, mas que só se apresentará à polícia após a chegada do responsável por seus filhos.


Doença crônica e estresse

A defesa divulgou uma nota de esclarecimento (íntegra abaixo) pedindo um “olhar de empatia” da sociedade e explicando o contexto “humano e clínico” de Yandra.

O documento afirma que ela é portadora de Lúpus Eritematoso Sistêmico, doença autoimune que, em fase ativa e sem tratamento contínuo — o qual ela afirma não manter por dificuldades financeiras —, pode comprometer o sistema neurológico, gerando impulsividade e instabilidade emocional.

Momento do atropelamento

Ferimentos em uma das vítimas. Foto: Rodrigo Dias

A nota ressalta ainda o papel de Yandra como mãe solo e provedora exclusiva dos filhos, descrevendo sua rotina como “um fardo diário”.

“O episódio não foi um fato isolado. Decorreu de uma escalada de agressões, provocações e humilhações sistemáticas que sofri ao longo de toda a semana anterior, o que me conduziu a um estado de extremo esgotamento psíquico e emocional”, diz um trecho da nota assinada pela própria Yandra.


NOTA DE ESCLARECIMENTO (Íntegra)

A defesa de Yandra Ebonnie Souza dos Santos divulgou o seguinte comunicado:

1. Do profundo pesar:
Manifesto minha solidariedade e meu profundo lamento às vítimas e seus familiares. A tragédia ocorrida jamais esteve em meu horizonte de intenções e representa uma marca de dor permanente em minha existência.

2. Da natureza do ato:
É imperativo aclarar que minha conduta não foi premeditada ou dolosa, mas sim uma reação impensada, fruto de um severo desequilíbrio emocional. Trata-se de um ato pelo qual nutro o mais profundo e sincero arrependimento.

3. Do contexto humano e clínico:
Minha realidade é a de uma mãe solo, provedora exclusiva de dois filhos, um deles portador do Transtorno do Espectro Autista. Sou diagnosticada com Lúpus Eritematoso Sistêmico, patologia que, em sua fase ativa e sem o devido tratamento — ao qual, por dificuldades financeiras, não tive acesso contínuo —, compromete gravemente o sistema neurológico, resultando em impulsividade e instabilidade emocional.

4. Das circunstâncias precedentes:
O episódio não foi um fato isolado. Decorreu de uma escalada de agressões, provocações e humilhações sistemáticas que sofri ao longo de toda a semana anterior, o que me conduziu a um estado de extremo esgotamento psíquico e emocional.

5. Do compromisso com a verdade e a justiça:
Carrego o fardo diário deste arrependimento e confio que o Poder Judiciário analisará os fatos com equidade, considerando meu histórico clínico e as circunstâncias atenuantes. Reafirmo meu total compromisso em colaborar com as autoridades.

Rogo à sociedade não por absolvição, mas por um olhar de empatia. Por trás desta falha existe um ser humano fragilizado pela doença, sobrecarregado pelas responsabilidades maternas e levado ao limite por uma sucessão de ataques.

YANDRA EBONNIE SOUZA DOS SANTOS

O caso segue sob investigação da Polícia Civil.

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