A luta de idosos, cadeirantes e pacientes com câncer excluídos da lista de moradia em Macapá

A fila que dobrava o quarteirão do estádio Glicério Marques reunia cadeirantes, gestantes e mulheres com crianças de colo, todos sob o sol escaldante.
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Por RODRIGO DIAS

A divulgação da lista preliminar de classificados para o Habitacional Janary Nunes, com 500 unidades, pela Prefeitura de Macapá, desencadeou uma onda de revolta e expôs o drama de candidatos em notória vulnerabilidade social que, mesmo após anos de espera, ficaram de fora da seleção.

A situação se agravou com a mudança repentina do local de atendimento para a interposição de recursos. A alteração, que ocorreu apenas após pressão nas redes sociais, acabou deixando idosos, pessoas com doenças graves e deficientes físicos expostos ao sol em uma longa fila.

Excluídos da lista do habitacional da prefeitura sob o sol escaldante

A reportagem do SelesNafes.com esteve no local e ouviu relatos que evidenciam o abismo entre os critérios oficiais de seleção e a realidade de quem mais precisa.

Na calçada, estava Dona Bárbara Marques, de 46 anos. Desempregada, mãe de dois filhos — um de 5 e outro de 29 anos —, ela vive de favor em um imóvel cedido pelo patrão do filho mais velho. Há cinco anos luta por um teto próprio, e nesse período enfrentou um agravante: foi diagnosticada com câncer de mama.

Com toda a documentação em ordem, Bárbara não entende por que foi excluída da lista. Seu desabafo mistura dor e indignação com a falta de sensibilidade da gestão pública.

Desempregada, mãe de dois filhos, luta contra um câncer de mama e vive de favor em um imóvel cedido pelo patrão do filho mais velho. Foto: Rodrigo Dias

“Tô correndo atrás pra ter vida, pra deixar um teto pros meus filhos. Estou há cinco anos nessa luta, pra chegarem aqui e tratarem a gente como cachorro. É uma indignação tão grande… a gente só quer um teto, um teto que é construído com o nosso dinheiro.”

Ela critica a postura de gestores que, segundo ela, “prometem mundos e fundos” em período eleitoral, mas ignoram a população depois de eleitos.

A fila é imensa. Fotos: Rodrigo Dias

Outro relato comovente é o de Dona Alice Mendes da Silva, de 77 anos. Idosa e sofrendo com fortes dores causadas por reumatismo, ela enfrentou horas de fila acompanhada dos netos pequenos. Moradora de uma casa antiga na área do Lago, bairro Santa Rita, contou que fez todo o processo corretamente e acreditava estar entre as classificadas.

“É meu sonho ter uma casinha pra eu morar, pra ter uma coisa melhor”, disse.

Mesmo diante da desclassificação, Dona Alice mantém a esperança.

“Não, senhor, não morreu. Vim brava, mas vim. Minha esperança é no Senhor. Mesmo com dor, vou seguir aqui na fila.”

Inscritos no programa, mas excluídos da lista aguentam firmes na fila para protocolar recurso

Alice Mendes, 77 anos: “Minha esperança é no Senhor. Mesmo com dor, vou seguir aqui na fila”

As duas histórias refletem uma realidade compartilhada por muitos. A fila que dobrava o quarteirão reunia cadeirantes, gestantes e mulheres com crianças de colo, todos sob o sol escaldante, tentando garantir o direito à moradia digna.

A insatisfação ganhou força com denúncias de que a lista preliminar teria excluído os mais vulneráveis e incluído familiares de servidores públicos e pessoas que já possuem casa própria — indícios de favorecimento e falta de transparência no programa Minha Casa, Minha Vida em Macapá.

Cadeirante que ficou de fora da lista

A Prefeitura informou apenas que 3.169 cadastros foram validados com base em critérios como atualização no CadÚnico e compatibilidade de renda. Não houve posicionamento sobre as denúncias de privilégios nem sobre as condições enfrentadas por candidatos em extrema vulnerabilidade durante o processo.

O prazo para recursos se encerra nesta quarta-feira (12), às 18h30, no estádio Glicério Marques. O resultado final será divulgado no dia 18 de novembro.

Seles Nafes
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