Por RODRIGO DIAS
O que começou como um suposto caso de abandono de recém-nascida, que mobilizou moradores e autoridades de Ferreira Gomes, a 140 km de Macapá, ganhou novos contornos na noite de segunda-feira (24).
A Polícia Civil esclareceu que a bebê encontrada ensanguentada nos fundos de uma residência não havia sido deixada por desconhecidos. Ela havia nascido horas antes dentro da casa, e a própria mãe simulou tê-la encontrado.
A investigação, conduzida pelo delegado Felipe Rodrigues, desmontou a versão inicial que comoveu a comunidade e desencadeou uma intensa busca pela suposta mãe da criança.
O início do caso
Na manhã de 20 de novembro, moradores de uma área residencial próxima a um pequeno comércio disseram ter ouvido um barulho incomum. Ao verificar o pátio da casa, uma moradora encontrou uma recém-nascida sobre uma mesa de madeira, com o cordão umbilical ainda preso e envolta em sangue.
Vizinhos se mobilizaram imediatamente. Uma moradora acolheu a bebê, enquanto outro a levou, no próprio carro, até a unidade de saúde mais próxima. O estado da criança era considerado grave, e ela precisou ser transferida. A bebê segue internada no hospital do município de Santana, a 17 km de Macapá. A cena gerou comoção e revolta.

Ao verificar o pátio da casa, uma moradora encontrou uma recém-nascida sobre uma mesa de madeira, com o cordão umbilical ainda preso e envolta em sangue, Fotos: Divulgação/Redes Sociais
Inconsistências levantam suspeitas
A Polícia Civil iniciou diligências logo após o registro da ocorrência. Depoimentos, análises do local e divergências nos relatos dos moradores levaram os investigadores a aprofundar as apurações.
A mulher que residia no imóvel onde o bebê foi supostamente encontrado reafirmou, inicialmente, que havia apenas escutado um som e, ao sair, se deparado com a criança no quintal. Mas, pressionada pelas evidências reunidas pelos policiais, acabou confessando.
Segundo relatou ao delegado, a jovem de 22 anos havia escondido a gravidez de toda a família e, por isso, decidiu morar sozinha. Ela estava no oitavo mês de gestação quando, na madrugada de 20 de novembro, começou a sentir fortes contrações.
Sem auxílio, deu à luz por volta das 9h, em sua própria cama. O cordão umbilical se rompeu espontaneamente, e a placenta foi descartada nos fundos da residência.

Delegado Felipe Rodrigues investigou o caso e descobriu a verdade. Foto: Divulgação/PC
Em choque, temerosa das consequências e emocionalmente fragilizada, decidiu simular o achado, tentando justificar a presença da recém-nascida na área externa.
Após a confissão, a mulher foi encaminhada ao Hospital de Porto Grande, onde passou por exames para avaliação física e emocional após o parto sem assistência.
Mesmo assim, de acordo com a polícia, ela ainda poderá responder pelos crimes de exposição ou abandono de recém-nascido e falso comunicado de crime.

