Com filiação de irmã de prefeito cassado, Furlan ‘bate na porta’ para entrar em Oiapoque

Tempo de filiação para Karine Almeida concorrer a cargo majoritário pode ser obstáculo
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Por SELES NAFES

A movimentação partidária da irmã do prefeito cassado de Oiapoque, Breno Almeida (PP), acrescentou um novo visual ao xadrez político do extremo norte do Amapá. Kamile Almeida deixou a sigla do irmão e assinou sua filiação ao Podemos, legenda comandada no estado pela primeira-dama de Macapá, Rayssa Furlan. O ato, aparentemente simples, carrega um peso estratégico: o prefeito da capital, Antônio Furlan (MDB), tenta fincar presença num território historicamente dominado por grupos ligados ao governador Clécio Luís (SD), miistro Waldez, aos senador Davi Alcolumbre (União Brasil) e Randolfe Rodrigues — justamente os dois blocos que se enfrentam na disputa pela hegemonia em Oiapoque.

Cassado por compra de votos após ser flagrado com R$ 100 mil em espécie e uma lista de beneficiários, Breno percorreu todo o caminho recursal disponível no Amapá, sem êxito. Agora, aguarda o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral, previsto para esta quinta-feira (27). Se o TSE confirmar o entendimento do TRE, a chapa será anulada e o município terá eleições suplementares — um pleito que, antes mesmo de ser convocado, já está em plena ebulição.

Nos bastidores de Oiapoque, a queda de Breno é tratada como inevitável. Com isso, os principais pré-candidatos se concentram na órbita do governo estadual, reforçando a leitura de que o campo governista pode dominar a transição. O nome considerado favorito é o do deputado estadual delegado Inácio (PDT). Ele ficou em segundo lugar na disputa de 2024, com 27,09% dos votos contra os 54,45% conquistados por Breno, que acabaria cassado meses depois. Desde então, Inácio manteve residência na cidade — um gesto político típico de quem nunca deixou de mirar a prefeitura.

O delegado goza de apoio robusto dentro do PDT, sigla presidida no estado pelo ministro da Integração, Waldez Góes, e que tem também o vice-governador Teles Júnior entre seus quadros. Trata-se de uma estrutura partidária forte e diretamente conectada ao governador Clécio Luís, o que torna o delegado o nome natural do grupo governista.

O presidente da Câmara, Guido Mecânico (PP), está impedido de concorrer por ocupar a prefeitura interinamente na linha de sucessão — além de ser aliado histórico de Breno. Já a ex-prefeita Maria Orlanda está fora das projeções atuais, após um desempenho eleitoral fraco nas últimas disputas.

Outros nomes aparecem em conversas paralelas, como o empresário Oscar — responsável pelo projeto de fibra ótica que conecta Oiapoque à Guiana Francesa — e o vereador Bruno (SD). Ambos são também alinhados ao governo estadual. Ainda assim, nenhuma das alternativas parece ameaçar o favoritismo de Inácio.

Inácio na eleição de 2024: 27,09% dos votos, terminou em segundo

2026

É nesse cenário que a filiação de Kamile ao Podemos ganha contornos políticos mais amplos. O gesto é interpretado como uma tentativa de Furlan de ingressar com força no jogo regional e ampliar sua zona de influência num município estratégico, especialmente para quem se movimenta como pré-candidato ao governo do estado. A suposta ruptura de Kamile com o irmão cassado reforça a narrativa de renovação — e, ao mesmo tempo, abre uma janela para o prefeito de Macapá ocupar espaço onde antes não tinha trânsito.

O ponto de tensão reside numa exigência da legislação eleitoral: para disputar eleições majoritárias, o candidato precisa ter filiação partidária ao menos um ano antes do pleito. Se confirmado o calendário mais provável — eleição suplementar — Kamile não preencheria esse requisito. Caberá aos advogados dela buscar brechas ou jurisprudência, se houver. Na pior das hipóteses, ela tem chance como deputada estadual ou federal.

Mais do que uma eventual candidatura, porém, o movimento deixa clara a intenção de Furlan de romper os limites da “bolha” macapaense e projetar-se para além da capital.

Em Oiapoque, onde os alinhamentos costumam ser rígidos e a disputa é fortemente marcada por grupos tradicionais, a entrada do prefeito da capital procura reconfigurar o tabuleiro e adiciona um novo vetor à disputa que se avizinha: o da construção antecipada de bases regionais para 2026.

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