Moradores usam grafia errada com bom humor para fazer alerta em cruzamento sem sinalização

A esquina fica próxima à escola e igreja, na zona leste da capital do Amapá.
Compartilhamentos

Por RODRIGO DIAS

Quem passa pela Rua Antônio Pelaes de Souza, na esquina com a Avenida Manoel Domingos Medina — próximo à Igreja Católica Nossa Senhora do Carmo e à Escola Estadual Maria Ivone de Menezes, no bairro Cidade Nova 1 — tem parado para observar uma mensagem pintada no asfalto: “40 KM, criança, DIVAGAR”. O erro proposital no último termo, escrito com “i”, virou assunto na comunidade e levantou um debate urgente: a necessidade de segurança viária no local.

A intervenção foi feita há três dias por Celso de Jesus Silva, o “Neguinho”, figura conhecida no bairro. A tinta foi doada por outro morador, e a iniciativa, segundo ele, surgiu da preocupação com a quantidade de acidentes registrados no cruzamento.

“É uma necessidade. Meu estabelecimento é aqui, eu fico sentado e já presenciei vários acidentes. Graças a Deus nenhum com óbito, mas com escoriações, sim”, relata.

Sinalização improvisada virou tema de debate entre moradores sobre riscos e soluções para o trânsito local

Neguinho explica que a grafia incorreta foi pensada justamente para chamar atenção.

“O ‘devagar’ com ‘i’ é para dar impacto. Se não tivesse, meu amigo repórter nem estava aqui”, diz, rindo, enquanto imita o barulho dos veículos passando em alta velocidade.

Mas o humor dá lugar à seriedade quando ele aponta para o entorno: o fluxo para a praia, o movimento de pequenos empreendedores, as famílias circulando e, principalmente, a proximidade da escola.

“Tem a escola Maria Ivone ali. Fluxo de aluno daqui, dali, de todo lado. É urgente.”

Neguinho pede que o poder público envie uma equipe para avaliar o local e instalar equipamentos de redução de velocidade.

A intervenção foi feita há três dias por Celso de Jesus Silva, o “Neguinho”

“Pode ser lombada, pode ser tacho… alguma coisa precisa ser feita. Senão, quando acontecer um acidente grave, o culpado vai ser o poder responsável”, alerta.

Entre os moradores que apoiam a iniciativa está Rose Gonçalves, de 30 anos, que mora no bairro há três anos. Para ela, atravessar o cruzamento com crianças é um desafio diário.

“Tá muito perigoso. Às vezes a gente passa um bom tempo esperando para conseguir atravessar. Eles passam numa velocidade que dá medo”, afirma.

Rose conta que evita deixar o filho ir sozinho à escola, mesmo sendo perto.

Grafia incorreta foi pensada justamente para chamar atenção

Rose Gonçalves, moradora do bairro, relata dificuldade para atravessar a via com o filho. Fotos: Rodrigo Dias

“É a entrada de quatro ruas, tem a praia aqui perto… muito arriscado. Tem que ter um sinal, alguma coisa que proteja a gente.”

Enquanto a sinalização improvisada cumpre — com criatividade — seu papel de alerta, moradores seguem aguardando por uma solução oficial. O cruzamento, estratégico para quem acessa a praia, a escola e o comércio local, permanece sem qualquer dispositivo de controle de velocidade.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!