O drama dos 800 servidores da prefeitura que ganham menos que um salário mínimo

O ato, organizado pelo Sindicato dos Auxiliares em Extinção (Sindai), cobrou reajuste salarial e a exoneração do secretário municipal de Gestão.
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Por RODRIGO DIAS

A indignação e o sentimento de humilhação levaram representantes de cerca de 800 trabalhadores da Prefeitura de Macapá a protestar, na manhã desta quarta-feira (5), em frente ao prédio do Executivo municipal. O ato, organizado pelo Sindicato dos Auxiliares em Extinção (Sindai), cobrou reajuste salarial e a exoneração do secretário municipal de Gestão.

O rosto da manifestação foi o do auxiliar de artífice Josivaldo Oliveira dos Santos, de 54 anos. Pai de cinco filhos e servidor há quase 26 anos — atualmente lotado na UBS das Pedrinhas —, Josivaldo revelou a vergonha que sente com a situação.

Auxiliar de artífice Josivaldo Oliveira relata a necessidade de se desdobrar em “bicos” para sustentar a família. Fotos: Rodrigo Dias

“Eu nunca nem ouso mostrar meu contracheque, que me denigre por dizer que sou servidor municipal. Tenho vergonha, te juro por Deus”, desabafou o trabalhador.

O drama de Josivaldo reflete a realidade de centenas de profissionais de diversas áreas, como merendeiras, serventes, auxiliares de jardinagem, telefonistas e técnicos administrativos. Segundo o sindicato, a categoria recebe um salário inicial de apenas R$ 1.470, valor inferior ao salário mínimo vigente de R$ 1.518 em 2025.

O drama alcança merendeiras, serventes, auxiliares de jardinagem, telefonistas e técnicos administrativos

Prestes a completar 26 anos de prefeitura, Josivaldo relata a necessidade de se desdobrar em “bicos” para sustentar a família, uma rotina que contraria seus esforços de ascensão profissional.

“Não adianta você dizer que é do município e ter que fazer outro bico para sobreviver. Eu estudei tanto, tenho meu segundo grau, para nada”, lamentou.

Ele critica o fato de que servidores recém-chegados, em outras categorias, já ganham mais que ele, que dedicou mais de duas décadas ao serviço público municipal.

Manifestantes se aglomeraram durante a manhã em frente à prefeitura de Macapá. Fotos: Rodrigo Dias

O representante da categoria no Sindai, Gefferson Soares, explicou os quatro principais pontos do manifesto:

– Exoneração do secretário de Gestão, Pedro Paulo: segundo o sindicato, o gestor “está se sentindo Alexandre de Moraes”, dificultando o acesso à documentação e travando a tramitação de processos administrativos.

– Revisão da tabela salarial: a categoria pede que o prefeito revise os valores antes da aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA), garantindo que o aumento seja incluído no orçamento de 2026.

– Incentivo à qualificação: os trabalhadores reivindicam auxílio para estudo e capacitação. Muitos, que ingressaram com nível fundamental, hoje ocupam funções que exigem maior qualificação — como operador de computador — sem suporte técnico, o que, segundo o Sindai, os expõe a assédio moral.

Gefferson Soares: “O olhar dessa gestão é só para cima. Eles não olham para a categoria que está embaixo”

– Regularização de progressões e promoções: o sindicato denuncia atrasos nas progressões de carreira.

“O olhar dessa gestão é só para cima. Eles não olham para a categoria que está embaixo”, criticou Soares.

Seles Nafes
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