Aposentado junta latinhas o ano todo, vende e compra presentes para doar a ribeirinhos no Natal

Casal transforma latinhas em brinquedos e leva alegria a crianças ribeirinhas no Natal.
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Por RODRIGO DIAS

O som do sino de metal cortou o silêncio das águas do Rio Pedreira. Na proa de uma voadeira, a figura é icônica. Vestindo o tradicional vermelho, preto e branco, lá estava o Papai Noel. Mas, desta vez, o trenó é motorizado e os ajudantes não são elfos, são amigos e voluntários unidos por uma causa que começou de forma humilde, entre latas de alumínio e o desejo de fazer o bem.

O “Papai Noel dos Rios” é, na verdade, Mário Alberto Martins, um técnico agrícola de 65 anos, natural de Orlândia (SP), mas com o coração fincado nas terras tucujus. Ao lado da esposa, Iris Sena, ele mantém vivo há quase duas décadas um projeto que transforma o que seria lixo em brinquedos e alegria para crianças de áreas periféricas e comunidades ribeirinhas.

Casal dedica 18 anos transformando latinhas em brinquedos para crianças ribeirinhas. Fotos: arquivo pessoal

Iniciativa começou com latinhas de alumínio vendidas para comprar presentes de Natal

O projeto nasceu de forma simples. Sem grandes patrocínios, o casal encontrou na reciclagem o caminho para o financiamento.

“No início, a gente juntava latinhas de cerveja o ano inteiro. Em dezembro, vendíamos e, com o dinheiro, comprávamos os brindes”, relembra Iris Sena.

O que começou como uma iniciativa solitária do casal ganhou corpo. Ao verem a dedicação da dupla, que costumava sair pelas ruas de Macapá perto do dia 20 de dezembro, amigos decidiram entrar na corrente.

Ação deste ano percorreu casas ao longo do Rio Pedreira, levando presentes e alegria

“Hoje, os amigos se engajaram. Continuamos juntando as latinhas, mas agora recebemos doações em dinheiro que nos permitem alcançar ainda mais crianças”, explica Iris.

Um detalhe chama a atenção dos pequenos e reforça a magia: a barba de Mário Alberto. Se no início ele recorria aos fios artificiais, há cinco anos o ritual mudou. A partir de julho, o idoso deixa de barbear-se. Em dezembro, a barba branca e farta é real.

“As crianças amam porque veem que é natural. Elas dizem: ‘Olha, o Papai Noel existe, ele é de verdade!'”, conta a esposa, emocionada.

Crianças se emocionam e ganham abraço do Papai Noel das águas no Rio Pedreira

Ação no Abacate da Pedreira

Este ano, a missão natalina teve como destino a comunidade do Abacate da Pedreira. A convite de Jean, um morador local, a ação aconteceu no último dia 14 de dezembro. O cenário não poderia ser mais amazônico e o Papai Noel desceu o rio de voadeira, parando de casa em casa.

“Fomos bem lá embaixo. Onde as crianças acenavam, a gente parava”, relata Iris. Para o próximo ano, o casal já faz planos: o objetivo é levar os presentes até a Croa da Pedreira.

Mário Alberto veste vermelho, deixa a barba crescer e se torna o verdadeiro Papai Noel dos Rios

Gratidão em família

Mário, que é pai de quatro filhos e três enteadas, encontrou no Amapá o palco para sua maior realização pessoal. Para ele, os 18 anos de projeto, que começou em escolas infantis e áreas de ponte em Macapá, são resumidos em uma palavra: gratidão.

“Ver o sorriso no rosto das crianças é uma grande recompensa”, afirma o Papai Noel. Entre o barulho do motor da voadeira e o brilho nos olhos dos ribeirinhos, Mário e Iris provam que a magia do Natal não vem do Polo Norte, mas da capacidade de transformar esforço em solidariedade.

Seles Nafes
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