“Não temos mais pororoca e nem água potável”, lamenta morador do Araguari

Morador diz que chega a navegar 9 horas de barco em busca de água potável.
Compartilhamentos

CÁSSIA LIMA

A promessa de desenvolvimento com a construção de hidrelétricas ao longo do rio Araguari não agradou a todos. Francisco Gomes da Silva, de 67 anos, mais conhecido com o “Seu Mimi”, diz que chega a navegar 9 horas de barco em busca de água potável.

Ele mora na comunidade de Bom Jesus do Araguari, que também é conhecida como comunidade do Tabaco, distante 12 horas de barco do município de Cutias, a 147 quilômetros de Macapá.

A comunidade é uma das 19 que o município tem. E é uma das muitas que não tem mais o fenômeno da pororoca e nem água potável. Segundo o morador, o que antes era o volumoso rio Araguari, hoje, é um campo que já possui cerca e até chão rachado.

Comunidade reclama de peixes mortos na região Foto: Arquivo

“Onde era rio, secou, e já tem até cerca e dono. A água que chega é pouca e tem espuma. Não serve para beber e nem tomar banho, porque fede. A gente apara água da chuva para tomar banho”, conta “Seu Mimi”.

Ele conta que foi criado na comunidade, e que hoje só tem na memória a última pororoca que viu, em 2013. Ele lembra também que quando a hidrelétrica Ferreira Gomes Energia começou a funcionar na região, apareceram outros problemas.

“A gente acha que é por causa dessa barragem. Apareceu muito peixe morto, arraia, camarão e a água fede. A água salgada veio entrando e não temos como usar. Já tentamos cavar poço, mas a água é salubre”, falou.

Além desses problemas, “Seu Mimi” acredita que a aceleração do fenômeno de terras caídas no Bailique esteja ocorrendo por causa da mudança do curso do rio Araquari.

Por várias vezes, peixes apareceram mortos no Araguari Foto: Arquivo

“A água, que antes descia para as comunidades do Araguari, agora está vazando pelo outro lado, o do Bailique. Isso acontece porque a seca causou furos e mudou o curso do rio. Agora, a água do oceano encontra o Amazonas com força e bate na terra do Bailique”, observou.

Os ribeirinhos afetados pela falta de água são dos municípios de Porto Grande, Ferreira Gomes, Cutias, Pracuúba e Amapá. São pessoas que moram nas comunidades de Bom Jesus, Pracuúba, Santa Rosa do Araguari, São Paulo e Vai Quem Quer. 

“A gente pega 9h de viagem para pegar água em uma comunidade mais próxima de Cutias. Isso não acontecia antes. Mas, agora, se eu quiser beber água, eu tenho que trazer em garrafas, baldes e caixas d’água pequenas”, lamentou.

“Seu Mimi” tenta buscar ajuda para mudar a realidade dessas comunidades. Ele diz que até os professores do módulo e os alunos sofrem com a escassez do recurso.

“Nós pedimos ao Ministério Público providências. Queremos uma subestação de água para essas comunidades, e que alguém olhe para nós”, pediu.

 

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!