No dia 21 de abril, o menino de 7 anos deixava a vida para virar símbolo da luta por melhores condições no tratamento do câncer
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NOTA DO EDITOR
O professor Agenilson Pereira, pai do menino Carlos Daniel, símbolo da infância do Amapá que luta contra o câncer, decidiu homenagear o filho morto há três anos. Numa carta emocionante, ele lembra os últimos momentos do menino que morreu em seus braços, e, mesmo em coma, chorou como se estivesse se despedindo.
No dia 21 de abril, Carlos Daniel, então com 7 anos, morreu após complicações que o levaram ao coma e, por fim, a uma parada cardíaca. Ele estava em São Paulo havia 8 meses, no Hospital Santa Marcelina, o mesmo destino de outras dezenas de crianças que não encontram no Amapá um tratamento mais eficiente contra os vários tipos de câncer que matam as nossas crianças.
Depois de tantos anos e lágrimas pelos meninos e meninas que se foram, é possível ver algumas mudanças no sistema público. O Programa de Tratamento Fora do Domicílio (TFD), da Sesa, voltou a funcionar regularmente, assim como o transporte aéreo de urgência.
O Hospital do Câncer de Barretos, fruto da união da bancada federal e do governo do Estado, começou a ser construído na zona norte. Mas essas mudanças ainda são muito lentas.
Enquanto isso, a ONG Carlos Daniel e o Ijoma tentam suprir a ausência do poder público com orientação, encaminhamento e suporte social aos pacientes.
Carlos ainda sem a doença manifestada. Fotos: arquivo pessoal
Dedicação a seu maior companheiro
Agenilson Pereira se divide entre o Amapá e São Paulo. Cedeu para outras crianças em tratamento na capital paulista o apartamento que alugou para acompanhar o filho durante o sofrido tratamento.
A saudade ainda não cabe em mim
Lembro-me como se fosse hoje, você morreu em meus braços filho. Um pouco antes de partir, você se despediu de uma forma inesperada. Mesmo estando em coma, você chorou e mexeu seu peito 3 vezes…
Fiquei estático e sem voz. A equipe médica correu para tentar reanimá-lo, mas senti naquela hora que você tinha partido, meu coração parou por alguns segundos e depois acelerou com uma dor insuportável que até hoje não consegui entender.
Durante os 8 meses que você lutou contra o CÂNCER. Me perguntava todas as noites o porquê de estar acontecendo isso em sua vida. Uma criança de 7 anos que já tinha vários sonhos, mas foi interrompido por uma doença que vem destruindo muitas famílias a todo momento.
23 de abril de 2015: missa de corpo presente virou grito de protesto. Foto: Seles Nafes
Quero que saibas filho, que pedi por diversas vezes a DEUS que pudéssemos trocar de lugar. Não senti a sua dor carnal, mas meu coração sangrava a cada quimioterapia que você fazia, ficava debilitado e limitado para fazer aquilo que você amava, jogar futebol, era sua paixão.
Hoje, quando vejo um garotinho com seus pais em uma praça, shopping, supermercado, vêm rápido as lembranças dos momentos inesquecíveis que passamos juntos.
A verdade é que um dia, cedo ou a tarde, a dor invade sem pedir licença. A dor engana, cria ilusão, se faz infinita. Hoje, aprendi que o AMOR de uma pessoa que se foi, na verdade, nunca se vai, ele fica. Mesmo passado esses 3 anos, a saudade ainda não cabe em mim…
