POR GESIEL OLIVEIRA
Você sabia que a Amazônia, especificamente o Amapá, esteve nos planos de Hitler como um território a ser conquistado pelo III Reich. O objetivo do nazistas era criar uma Guiana Alemã aqui no Amapá.
Mas as doenças tropicais do “inferno verde amazônico” atingiram a maior parte dos 17 membros da expedição secreta com uma epidemia de malária e febre amarela. Alguns deles estão sepultados em um pequeno cemitério nazista, junto a 37 sepulturas, alguns nacionais desconhecidos também estão lá.
Esse local fica próximo à cachoeira de Santo Antônio no Rio Jari. O impacto foi tão forte, que fez o supersticioso Adolph Hitler recuar da ideia.
Uma enorme cruz de madeira ostenta uma suástica nazista no cemitério de uma ilhota sem nome do Rio Jari, entre os estados do Amapá e Pará. É o que resta da expedição nazista que chegou a Belém em 1935 e durante dois anos explorou a geologia, fauna e flora da Amazônia.
“A tomada das Guianas é uma questão de primeira importância por razões político-estratégicas e coloniais.” Essa frase faz parte de um relatório de 1940 preparado pelo biólogo e geógrafo Otto Schulz-Kamphenkel para a SS – a força de elite do Terceiro Reich. O objetivo da chamada Operação Guiana era colonizar as guianas Francesa, Inglesa e Holandesa. A invasão seria feita pelo norte do Brasil, pois os nazistas já haviam passado por aqui – e gostado do que viram. De 1935 a 1937, Schulz-Kamphenkel liderara uma expedição que começou em Belém do Pará e percorreu as margens do rio Jari, no atual estado do Amapá, até chegar à fronteira da Guiana Francesa.
Os metais preciosos da região e a forte influência dos ingleses na América do Sul foram os principais incentivadores da Operação Guiana. Em carta endereçada a Hitler, no dia 3 de abril de 1940, o oficial da SS Heinrich Peskoller diz que as reservas de ouro e diamantes locais seriam suficientes para sanar a situação financeira da Alemanha em poucos anos.
“Na Guiana Britânica, a extração de ouro e diamante é mantida em baixa para não atrapalhar o mercado sul-africano (dominado também por ingleses). Nas mãos do Führer, cada metro quadrado de solo poderia ser em pouco tempo explorado pela grande Alemanha”, escreveu o oficial.
Peskoller não queria apenas criar uma colônia para alimentar a economia do Terceiro Reich. A região teria importância na construção do Espaço Vital da raça ariana – pois os nazistas acreditavam que seria possível transformar a região em um lugar bom de viver. “O empenho e a técnica alemã poderiam domar as inúmeras cachoeiras na forma de usinas hidrelétricas colossais. Podendo fazer uma rede elétrica em todo o país com bondes, navegação fluvial, produção de madeiras nobres, pontes, aeroportos, escolas e hospitais. A comparação entre o antes e o depois da tomada dos alemães contaria pontos para o Führer”, argumentava Peskoller.
A conquista das Guianas também traria outro grande benefício para os alemães: atrapalhar a Inglaterra. Os ingleses compravam muitas matérias-primas das Américas, e boa parte dos cereais consumidos no território inglês vinha da Argentina. Depois de montar a base na América do Sul e tomar as Guianas, o próximo passo dos nazistas seria mandar submarinos para a região – para que os navios que se dirigiam à Inglaterra fossem abatidos.
Em 1940, o projeto foi encaminhado a Heinrich Himmler, líder da SS e um dos principais nomes do governo nazista.
“O plano parece romântico, mas é factível”, defendeu Schulz-Kamphenkel. A operação, de acordo com o pesquisador, deveria ser feita em sigilo. Os alemães atacariam em duas frentes. Uma tropa de 150 soldados navegaria o rio Jari, no Amapá, para chegar a Caiena, capital da Guiana Francesa. Ao mesmo tempo, pequenas embarcações e 2 submarinos atacariam pela costa da Guiana.
A América do Sul e a Sibéria deslumbravam Schulz-Kamphenkel pelas riquezas naturais. Esses territórios eram considerados áreas ideais para a expansão do Terceiro Reich. Mas a invasão militar na Sibéria estava temporariamente descartada. Os Russos dominavam a região. E, até 22 de junho de 1941, estava em vigor um pacto de não-agressão germano-soviético. Sobrava a América do Sul.
Na avaliação dos nazistas, os países vizinhos não impediriam a invasão. O Brasil dera apoio irrestrito à primeira viagem de Schulz-Kamphenkel pela Amazônia, em 1935 (quando o pretexto dele era estudar a flora e a fauna locais), e não sabia dos planos de ataque.
Uma possível represália dos EUA também era considerada improvável. Em 1940, eles ainda não estavam em guerra contra a Alemanha. Pela lógica da SS, a troca de poder nas colônias seria uma mera substituição de nações europeias na região – e não afetaria a influência dos americanos por aqui.
O plano também incluía previsões assustadoras para o período do pós-guerra. Após a conquista da Europa, o novo alvo seria o Japão. “Se conseguirmos assegurar (o território das Guianas), teremos uma posição estratégica para enfrentar o Japão”, diz o relatório. Era uma questão de defesa. “Há o risco terrível de domínio amarelo no mundo. A raça branca está ameaçada pela raça amarela.”
Preparando a invasão
Um livro de 1938 achado recentemente num sebo em Berlim traz anotações precisas da expedição. Intitulado “Mistérios do Inferno da Mata Virgem”, o diário do geologista e piloto Otto Schulz-Kampfhenker revela que os quatro oficiais alemães teriam outros interesses que os científicos – buscavam os acessos e caminhos do Amapá, região estratégica a ser ocupada na guerra que se aproximava.
Os exploradores levaram 11 toneladas de suprimentos e munição para 5 mil tiros. Enviaram para a Alemanha as peles de 500 mamíferos diferentes, centenas de répteis e anfíbios e 1.500 objetos arqueológicos. Produziram 2.500 fotografias e 2.700 metros de filme 35mm que mostram índios, caboclos, animais, peles, cobras e outros espécimes exóticos do mundo tropical.
Eles também aproveitaram para testar um hidroavião com flutuadores de compensado de madeira, técnica inédita na época, e algumas armas e equipamentos não detalhados no livro.
“Papai grande”
A missão foi repleta de incidentes. O piloto errou duas vezes a rota de Arumanduba, de onde partiriam. Somente ao chegarem ao rio descobriram que era raso, encachoeirado e pedregoso, inviabilizando o uso da aeronave. O jeito foi seguir a pé e de barcos, com a contratação de caboclos para fazer o trabalho braçal.
Os alemães apreciaram o tipo indígena dos aparaís: “construído como um atleta olímpico (…) parecendo uma estátua de bronze modelada por um artista”. Fizeram amizade com eles apresentando-se como “filhos do Papai Grande da Ciência” e moraram na aldeia durante quase um ano, período em que Schulz teve uma filha com uma das nativas.
A uruca da sucuri
A expedição, porém, continuava azarada. Um dos alemães, Joseph Greiner, contraiu malária e morreu poucos dias depois. Foi enterrado ali mesmo, numa ilha do Rio Jari, onde está a cruz com a suástica. A expedição prosseguiu por mais um ano, até fevereiro de 1937, com ajuda de caboclos e índios. Malária, repetidos acidentes e apendicite atacaram os alemães. Otto quase perdeu a vida ao tentar subir as violentas corredeiras do rio.
Para os índios, os alemães estavam sendo castigados por terem matado uma sucuri de sete metros, animal sagrado cuja morte traz azar. A expedição terminou e os sobreviventes retornaram à Alemanha. Em seu diário, Otto anotou que concluíram a maioria das experiências técnicas “em prol de missões maiores no futuro”.
A Amazônia resiste
Os alemães sempre tiveram um interesse especial pela terra brasileira; Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, mostrou como eles cartografaram detalhadamente a geologia e geografia nacionais havia muito tempo. Também é germânica a descoberta de que Goiás tem o solo mais antigo do planeta.
Além dos nazistas, os capitalistas tentaram a sorte na Amazônia e foram derrotados: em 1927, Henry Ford comprou cerca de um milhão de hectares na selva, junto ao rio Tapajós, e iniciou uma gigantesca plantação de borracha, a Fordlândia. O projeto durou 18 anos até ser tragado pela selva.
Em 1967, o homem mais rico dos EUA, Daniel K. Ludwig, também fracassou com sua fábrica de celulose flutuante denominada Projeto Jari. Mas estas histórias ficam para outro dia.
Os nazistas também estiveram na Ilha de Santana.
Não se sabe a data exata, mas foi lá pelos idos da década de 1940 que um caboclo ribeirinho espalhou pelas nossas localidades interioranas a conversa de que viu um submarino submergindo no Rio Amazonas, próximo à boca do Rio Vila Nova, e que de dentro dele saiu um grupo de marinheiros e se dirigiu à Ilha de Santana.
O relato desse caboclo, cujo nome caiu no esquecimento de antigos moradores santanenses, causou uma grande confusão, inclusive, com a prisão de padres estrangeiros, que na época tomavam conta do Orfanato “São José”, construído naquela década na Ilha de Santana, já que se suspeitou que o submarino era da Alemanha e que os marinheiros iam até lá em busca de informações.
Ao ser interrogado pelas autoridades, o caboclo, meio que confuso, mudou o depoimento e disse apenas ter visto um grande barco com duas velas. Em meio a risos, os próprios padres teriam afirmado que na verdade o que o caboclo teria visto era uma embarcação tipo “regatão”, que passava pelos rios da região vendendo mercadorias aos ribeirinhos.
Mas para alguns moradores da Ilha de Santana, a primeira versão dita pelo caboclo seria mesmo um submarino, já que nessa época, falava-se que os padres (residentes no Orfanato) costumavam agir de forma bastante estranha e recebiam “visitas muito suspeitas” nas altas horas da noite, o que era constatado pelas louças sujas que de vez em quando as cozinheiras encontravam na cozinha do Orfanato.
E a “estória” vai mais além: conta-se que ao emergir e partir do local onde costumava ancorar, o submarino levantava enormes ondas d’águas que causavam o afundamento de pequenas embarcações, daí, talvez, justifica-se o surgimento da lenda da “Sofia”, que por muitas décadas, justamente a partir de 1940, era contada em prosa e verso por ribeirinhos e catraieiros, que diziam ser uma grande cobra com a cabeça em chamas vagando pelo Rio Amazonas, o que poderia muito bem ser um submarino e suas luzes.
Na verdade, não se tem nenhuma comprovação oficialmente documentada de que esses religiosos (padres) recebiam marinheiros nazistas, já que nessa época a Alemanha era governada por Adolf Hitler. Contudo, sabe-se que o Orfanato “São José” foi realmente construído por alguns padres europeus em um terreno situado na parte de atrás da Ilha de Santana, e que lá eles permaneceram por um longo período até serem substituídos por padres italianos em 1948.
A versão do caboclo ribeirinho foi relatada pelo aposentado Manuel Rodrigues de Araújo, hoje com 74 anos, residente em Santana e que chegou a morar no Orfanato, tendo seu Manuel ouvido muitas histórias acerca do submarino alemão, mas não acreditando que realmente tenham acontecido.