ANDRÉ SILVA
Quem passeia pela orla de Macapá já deve ter observado o comércio que se se forma todos os dias na rampa do Bairro Santa Inês, zona leste da cidade. Peixe, camarão, porco e, principalmente, açaí, são vendidos no local há mais de 40 anos. Mas, quem são e de onde vem os desconhecidos que utilizam o espaço para lucrar um dinheirinho?
Um dos comerciantes mais antigos no local é o José Maria, de 59 anos. Ele disse que trabalha há mais de 30 anos comercializando peixe, camarão, churrasquinho e, atualmente, carne de porco, na rampa. O vendedor tem cinco filhos, todos sustentados com o dinheiro que ganha no negócio.
“Zé Maria”, como gosta de ser chamado, conta que veio para o Amapá junto com os pais dele, naturais do município de Afuá, no Pará. Ele tinha 10 anos quando chegou à cidade. Os pais logo se estabeleceram no Bairro Santa Inês, aonde moram até hoje.
“A única coisa que já estava aqui quando eu cheguei era esse cano da Caesa [sub estação de captação de água da Companhia de Água e Esgoto do Amapá], porque, antes, eram só as casas aqui até ali no Araxá, aquilo ali já existia quando comecei a trabalhar aqui. Eram outros bares, outros donos”, lembra o comerciante.
O produto mais comercializado no local é o açaí, que vem de regiões que ficam na divisa do Amapá com o Pará, como a comunidade Furo dos Porcos. É de lá que vieram os amigos Azenilson Silva, de 16 anos, e Amiraldo do Rosário, de 23 anos. Eles passam duas horas navegando no Rio Amazonas para chegar até a rampa, em Macapá.
Os dois dizem que só trabalham com açaí durante a safra, que dura seis meses. Na outra metade do ano, eles vendem camarão, palmito e fazem o manejo dos açaizais.
Azenilson e Amiraldo trabalham colhendo açaí desde muito pequenos, e contam que já viram pessoas morrerem depois de cair de árvore do fruto.
“Meu pai que me ensinava. Lá, ele já trabalhava com a extração do palmito, do açaí, e aí ensinou a todos os filhos. O macete para o cara não cair da árvore e não se machucar ou morrer, é subir em árvore grossa e que esteja seca depois da chuva”, orienta Azenilson.
Entre as diversas pessoas que passam no local, existem aquelas que estão em uma missão diferente, a exemplo da pastora Julcicleide de Sousa, de 56 anos. Há dois anos, ela começou um trabalho missionário na Comunidade do Cajueiro, localidade também do município de Afuá, com o marido, que é pastor e tem uma igreja dentro da comunidade. Para chegar ao local são duas horas de navegação.
“Começamos esse trabalho lá porque vimos que é um lugar que carece de Deus, mas, o trabalho não é fácil. A gente faz visitas domésticas e ajuda a comunidade como pode. Temos projetos sociais com crianças também no local”, conta a pastora.