Crônica, por SELES NAFES
A última vez em que havia estado na sede do município de Itaubal do Piririm, a 140 quilômetros de Macapá, foi há 18 anos. À época, eu era repórter da Rede Amazônica a serviço do canal Amazon Sat, que tinha um programa chamado “Viagens pela Amazônia”, muito assistido por aqui. Era 1999.
A cidade, muito pacata, sempre foi bastante pobre, com pouca atividade econômica, apesar das belezas naturais que poderiam estimular o turismo, com a implantação de restaurantes, hotéis, criação de trilhas e pacotes de passeios.
Na última quinta-feira (31), voltei ao município já em outra missão, mas acabei encontrando o mesmo cenário. Itaubal não mudou em nada, e isso não é bom.
A vida continua devagar, como diz a célebre canção “Vida Boa”, do poeta e compositor amapaense Zé Miguel. Em Itaubal, poucas pessoas andam pelas ruas, que chegam a ficar quase desertas ao meio-dia.
O problema é que o devagar se aplica não apenas ao cotidiano da cidade, mas à perspectiva dos 5.387 moradores, segundo o IBGE. É a terceira menor população do Amapá, perdendo para Serra do Navio e Pracuúba.
O asfalto chegou a Itaubal há dois anos com a conclusão das obras da Rodovia AP-70, a principal ligação com a capital e outros municípios. O desenvolvimento parou por aí.
Itaubal não tem empregos, empresas. A população conta com apenas duas escolas: uma estadual (que vai até o nível médio) e uma infantil, além de duas creches
Os jovens não sabem o que farão quando terminarem a escola. A maioria quer cursar a faculdade, mas para isso seria necessário se mudar para Macapá.
A única atividade econômica nova foi o advento da soja. Contudo, a maior fazenda da região quase não emprega os moradores, já que a colheita é toda mecanizada.
Na beira do Rio Piririm, afluente de águas verdes e transparentes que banha a cidade, encontrei ao meio-dia alguns moradores tentando garantir o almoço.
Uma senhora, muito sorridente e simpática, estava com um balde cheio de piranhas vermelhas que iriam para a frigideira.
“Se cozinhar vira afrodisíaco”, brincou.
Apesar de tudo, ela tinha uma razão para estar feliz. O marido havia acabado de arrumar emprego na prefeitura, como gari.
Por volta de 13h, ela voltou para casa, com o balde lotado de piranhas. Se despediu com jeito de que voltaria no dia seguinte, para fazer tudo de novo.
Como diz Zé Miguel na canção: “…e assim vão passando os anos, eita, que vida boa!”