O que define o destino?

Ao longo da vida, mesmo na pobreza, jovens fazem escolhas diferentes que fazem a diferença entre uma vida produtiva ou a morte
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Crônica, por SELES NAFES

As fotos voam de grupo em grupo no aplicativo de mensagens mais famoso da atualidade. Há muito sangue, curiosos, polícia e viaturas. São jovens criminosos mortos que acabaram de assaltar uma espetaria e, na fuga, atiraram contra policiais militares. Os internautas comemoram: CPF cancelado!!! Mais um no inferno!!!

Ao mesmo tempo em que eu me sinto aliviado por nenhum policial ter morrido na ação, diga-se de passagem, legítima defesa da própria vida, é impossível não lamentar também pelos jovens que precisaram ser mortos.

A pergunta que vem imediatamente à mente é: poderia ter sido diferente? É claro que sim. Os rapazes, entre 17 e 21 anos, poderiam estar estudando, trabalhando, ou apenas voltando de uma balada, de uma reunião de amigos, de uma lanchonete…

Mas não: estavam voltando de um crime, e um crime violento. Não bastou tomar de alguém o que não lhes pertencia, ainda agrediram as vítimas da pequena churrascaria.  

Local onde os jovens criminosos morreram na troca de tiros com a PM. Fotos: Olho de boto

Agora exercitemos um pouco a empatia, a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Quem frequenta as áreas de pontes de Macapá, as nossas favelas, sabe do que estou falando. É mais do que comum encontrar meninos de 10, 12 anos usando brincos, piercings, e com o cabelo descolorido. Mera repetição de comportamento.

Não são todos os meninos, graças a Deus, mas muitos se espelham no irmão mais velho, no pai alcoólatra, na mãe desajustada, no vizinho que cumpriu pena por homicídio.

Longe de mim justificar a escolha que cada um fez e faz. Afinal, cada um é responsável pelas decisões que toma, e as consequências nos ensinam. É assim que amadurecemos.

Mas como agir com sanidade no meio da loucura? Como fazer o certo num universo onde todos fazem o errado? Há muitos exemplos de jovens que também cresceram em lares desajustados, mas que souberam tomar a decisão correta, e se tornaram profissionais de sucesso, fazedores do bem.

Não sei explicar porque os destinos são tão diferentes. Talvez alguém tenha dado um conselho certo na hora certa para o jovem que, apesar de tudo, conseguiu vencer na vida. Talvez esteja no DNA fazer o bem ou escolher o mal. Talvez seja mesmo o meio a grande fábrica de personalidades. Eu não sei.   

Só sei que não consigo parar de pensar que tudo poderia ter acabado diferente para aqueles quatro, e para tantos outros que se encontraram mais cedo com o “único mau irremediável”, definição da morte na obra o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

E que falta faz a presença do Estado nas passarelas da vida.

Seles Nafes
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