Bariátrica: Há pacientes que não se reconhecem no espelho, revela médico do ICCA

O cirurgião-geral Carlos Galan explica que o paciente precisa estar preparado clinicamente, mas também psicologicamente antes do procedimento
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Para muitos acima do peso, a cirurgia bariátrica é a chance mais rápida de recuperar a saúde e a silhueta, mas nem sempre dá certo. Apesar do índice de letalidade ser muito baixo no Amapá, menos de 1%, o cirurgião geral Carlos Galan, da equipe do Instituto Cristão de Cardiologia (ICCA), revela que é preciso muita preparação, especialmente psicológica.

Neste sábado (4), ele estava na equipe de check-up do ICCA avaliando pacientes e tirando dúvidas, quando recebeu o Portal SelesNafes.Com.

(Agendamentos para check-up no ICCA: 3224-3317 e 99144-0033)

É grande a quantidade de cirurgias bariátricas no Amapá. Só Galan participa de pelo menos 15, a cada mês.

Ele revelou que existem pacientes que passam a não se reconhecer no espelho após a cirurgia, e isso pode causar graves danos psicológicos.

Equipe que recebe pacientes no check-up do ICCA. Fotos: Seles Nafes

Pacientes aguardam consultas com especialistas no check-up

Além da plena condição clínica, o paciente também precisa estar completamente convencido de que sua vida irá mudar, e que ele precisará ter outros prazeres na vida no lugar da comida.

Basta decidir que quer fazer a bariátrica?

Não. É preciso haver indicação. O paciente precisa ter índice de massa corpórea (IMC) de 30 ou mais. Além disso, é preciso haver comorbidades (doenças relacionadas), como pressão alta, diabetes, síndrome metabólica. Aí sim, se faz a indicação formal. A partir da indicação existe todo um processo de exames e avaliações.

Então é preciso ter a indicação e a condição clínica…

O paciente precisa ter condições cardiológicas e pulmonares para ser submetido a um procedimento cirúrgico, mas também condições psicológicas para suportar as mudanças que irão ocorrer em sua vida. Há uma modificação principalmente no perfil do paciente. Tem paciente que nem se reconhece…

Teste ergométrico em sábado de check-up

No espelho?

Sim

Isso dá um impacto psicológico?

Dá. Por isso é necessária a avaliação psicológica. É preciso se preparar psicologicamente para tirar aquele costume de comer, é o que a gente chama de “mentalidade de gordo”.

O que acontece quando a pessoa não se reconhece?

Crise de identidade, alterações psicológicas, um transtorno como a depressão. Há casos na literatura. Além da indicação, o paciente tem que estar preparado.

Todos os sábados tem check-up no ICCA com consultas e exames numa só manhã

Perder o prazer de comer muito pode significar a perda do sentido da vida para alguns pacientes?

Claro. Tem paciente que vive para comer.

Por que é necessário fazer fisioterapia pulmonar?

Alguns pacientes obesos ficam com a condição pulmonar diminuída. Muitas vezes ele até precisa emagrecer para fazer a cirurgia e respirar melhorar. Se na avaliação que será feita com vários especialistas houver uma contraindicação, a cirurgia não irá acontecer.

Algumas pessoas se submetem a cirurgia para zerar o diabetes. Funciona mesmo?

Funciona. Hoje a cirurgia bariátrica não serve apenas para reduzir o peso, é um tratamento eficaz para a síndrome metabólica.

Carlos Galan: falta de cuidados do próprio paciente pode levar a óbito

Qual a cirurgia bariátrica mais comum no Amapá?

É a by-pass

Como funciona?

É um corte no estômago. A partir daí se faz uma alça intestinal, uma junção em outra parte do intestino. O paciente vai se alimentar pouco. O efeito é de pouca absorção de gordura.

Algumas pessoas têm dificuldade em parar de emagrecer depois da cirurgia. O que fazer?

É preciso ter o acompanhamento de um nutricionista.  

A cirurgia é reversível?

Não. Sem acompanhamento a pessoa pode até voltar ao peso que tinha antes da cirurgia. Nesses casos existem outras técnicas de cirurgias.

A letalidade aqui no Amapá é baixa, não é?

Muito baixa. O Amapá não perde para nenhum centro do país. Na semana passada, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o Eudes de Godoy, esteve aqui e participou de um evento. Ele ficou impressionado com a nossa condição estrutural e de segurança. O índice (de óbitos) é muito pequeno, menos de 1% dos casos.

Quando ocorre um óbito é por qual motivo?

Falta de cuidado do próprio paciente nos pós-operatório, por causa da alimentação.

Ele pode morrer depois da cirurgia por causa da alimentação?

Sim. Dois, três dias após a cirurgia o paciente é liberado. O paciente mais reticente volta para casa e começa a comer a mais.

Isso pode matar?

Pode. Porque rompe a linha de sutura pela pressão do alimento, e há o extravasamento de líquido para dentro da cavidade. Já ocorreu um caso em que descobrimos depois (da morte) que o paciente fazia brigadeiro de madrugada, tomava latas de leite condensado. Depois a família, arrumando as coisas dele, descobriu latas de leite condensado.

* Carlos Galan é cirurgião-geral formado na Universidade Federal do Amapá (Unifap), e também atua na rede de Santana.

Seles Nafes
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