Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Mais de 40 famílias ocupam, há um mês, as margens da BR-156, a 42 km de Macapá, na expectativa de pressionar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a lhes assistir como beneficiários de reforma agrária.
A principal reivindicação é que o Incra os insira no cadastro da fila nacional da reforma e acelere esse processo. As famílias são formadas por pessoas de vários cantos do Amapá, especialmente de Macapá, e também de Santana.
Eles contam que a vida na cidade após a crise econômica iniciada em 2008 e seu consequente impacto no aumento do desemprego fez com que a busca por um lote de terras para morar e produzir tenha se tornado uma alternativa para as suas vidas.
Jaziel Magalhães, de 65 anos, é jardineiro e se juntou ao movimento para reivindicar um lote.
“Ninguém está aqui apenas porque quer. As pessoas precisam. Estamos todos fugindo do desemprego. Eu entrei no movimento para fortalecer, porque preciso de um pedaço de terra. Quero produzir plantas, flores, mudas e também outros tipos de produção”, declarou Jaziel, paraense radicado no Amapá há mais de quatro décadas.
Rotina
O acampamento, que recebeu o nome de “Assentamento Alberto Guimarães”, em homenagem a um participante do movimento que faleceu atropelado anos atrás, tem maior número de pessoas e de participantes aos fins de semana.
É quando as pessoas que tentam o sustento com serviços informais em Macapá e em outras cidades conseguem voltar para o local. No geral, explica um participante do movimento, as pessoas ficam pelas casas de parentes e em trabalhos manuais, bicos que conseguem durante a semana.
São essas pessoas, o conjunto das famílias, que sustentam o acampamento, levando alimentos e o que mais for possível. A água vem um antigo poço amazonas e as poucas horas de energia elétrica de um pequeno gerador, suficiente para ligar poucas lâmpadas e uma pequena televisão. A comida é feita em fogões à lenha.
“Na cidade é complicado, precisa pagar aluguel, gás, energia. Sem emprego, não deu mais. A terra, se a gente tem um lote, a gente já tem uma independência, porque da terra podemos suprir todas nossas necessidades”, contou Rosemeire Rodrigues, de 35 anos.
Os ocupantes alegam que a área é de propriedade da União, que a faixa de terra onde estão pertence ao Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) e que eles estão amparados pela Constituição, que prevê que os mesmo sejam assentados e passem pelo processo de receberem terra para se tornarem pequenos produtores.
Eles, que são ligados ao movimento nacional chamado “Frente Nacional de Luta” (FNL) e recebem o apoio da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), são do mesmo grupo de família que dias atrás ocuparam uma fazenda às margens da AP-070.
“Não queremos nada de ninguém, queremos o que é nosso. Aquela ocupação é para chamarmos a atenção das autoridades. Mas todo mundo tem que saber, que não somos bandidos nem nada do tipo, somos trabalhadores”, contou um dos ocupantes que preferiu não se identificar.
A reportagem fez contatos com o Incra, mas até o horário de publicação da matéria não obteve retorno.